Economia

Ensino superior dá aos jovens mais oportunidades de trabalho e melhores salários

Um trabalho da Fundação José Neves conclui que os jovens portugueses continuam a enfrentar salários mais baixos em média, mas possuir um curso de ensino superior está a garantir cada vez mais oportunidades de trabalho e melhores remunerações

Rafael Marchante

Os jovens continuam a ter, em média, salários mais baixos, mas ter um curso de ensino superior parece garantir cada vez mais oportunidades de trabalho e mais bem pagos, sugere um relatório divulgado esta quinta-feira.

A conclusão consta da edição de 2024 do relatório "Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal", divulgada esta quinta-feira pela Fundação José Neves, que traça o retrato do país olhando para o estado da educação, emprego e competências.

Taxa de desemprego e Ensino Superior

Depois da crise pandémica, os níveis de desemprego jovem voltaram, em 2023, a aproximar-se dos valores registados antes da pandemia de covid-19, mas a recuperação atingiu, sobretudo, os jovens com ensino superior.

No ano passado, a taxa de desemprego entre os 25 e 34 anos fixou-se em 7,4%, mas no caso dos jovens que não chegaram a concluir o ensino superior chegou aos 9%, ficando-se pelos 5,3% entre os restantes e a taxa mais baixa do período analisado (entre 2011 e 2023).

De acordo com o relatório, as oportunidades de emprego são maiores para os candidatos com ensino superior e são cada vez mais as ofertas de trabalho que exigem um mestrado ou um doutoramento.

Também no que respeita ao prémio de empregabilidade, que representa a diferença na probabilidade de estar empregado para indivíduos com características comparáveis, registou-se, durante a pandemia, um aumento considerável do prémio associado à obtenção de um mestrado.

Jovens continuam como a faixa etária mais mal paga

O valor do ensino superior no mercado de trabalho é também medido pelas diferenças salariais e se ter um curso superior está associado a mais oportunidades, está igualmente associado a melhores salários.

O relatório refere que o ganho adicional associado à formação superior que, em relação ao ensino secundário, ronda os 49% para a população entre os 18 e os 64 anos e os 34% para os jovens entre os 25 e 34 anos.

Por outro lado, entre 2022 e 2023, o salário real dos jovens aumentou, em média, 3,9%, mas esse aumento não foi igual para todos e, no caso dos diplomados do ensino superior, o rondou os 7%.

Ainda assim, os jovens entre os 25 e 34 anos continuam a ser a faixa etária mais mal paga, independentemente das suas qualificações: em 2023, recebiam, em média, um salário real de 1.004 euros, menos 176 euros em comparação com os jovens com ensino superior.

Educação e formação de adultos

No que respeita ao ensino superior, o relatório olha para a evolução da formação em Portugal e traça um cenário de aproximação às metas traçadas pela fundação até 2040.

Do decréscimo da proporção de adultos sem o ensino secundário completo (de 42% em 2022 para 40,6% em 2023) ao aumento da taxa de emprego dos recém-formados (de 78,4% em 2022 para 78,8% em 2023), os autores sublinham também o ligeiro crescimento da proporção de adultos que participa em programas de educação e formação (de 13,3% em 2022 para 13,4% em 2023).

São os adultos com ensino superior que mais participam em educação e formação e entre os menos escolarizados, apenas com o ensino básico, a participação não vai além dos 5,2%.

"Dado a elevada percentagem de adultos em Portugal com este nível de escolaridade (mais do dobro da média europeia), esta baixa taxa de participação em educação e formação assume especial importância, constituindo um obstáculo à rápida qualificação de adultos, facilitadora da sua melhor adequação ao mercado de trabalho", alertam.

Por outro lado, registou-se um ligeiro decréscimo da proporção de jovens adultos com ensino superior (de 42,5% em 2022 para 40,9% em 2023), ainda um reflexo do impacto da pandemia no aumento das taxas de abandono e do tempo para a conclusão dos cursos.

Tecnologias e digitalização são escolha de um em cada três alunos do ensino profissional

O estudo conclui ainda que as tecnologias e digitalização são as áreas mais populares entre os alunos do ensino profissional, escolhidas por um em cada três estudantes.

Na última década, o número de alunos no ensino profissional diminuiu ligeiramente, representam hoje cerca de 33% dos estudantes do secundário, mas são cada vez mais aqueles que acabam o curso e cada vez mais aqueles que prosseguem os estudos.

No ano letivo 2021/2022, 84% dos finalistas concluíram o curso (em 2014/2015 foram 70%) e no ano anterior, a que se referem os dados mais recentes, 24% seguiram para o ensino superior (em 2014/2015 foram 15%).

As Ciências Informáticas e a Eletrónica e Automação são aquelas que levam mais estudantes a prosseguir os estudos, mas as tecnologias e digitalização são também as mais populares no ensino secundário.

Segundo os dados divulgados no relatório, 14,4% dos diplomados em 2021/2022 eram de cursos relacionados com Ciências Informáticas, a área mais popular seguida de Audiovisuais e Produção de Media (9,5%) e Eletrónica e Automação (5,3%).

Quando passam para o ensino superior, as opções dividem-se, praticamente por igual, entre tirar uma licenciatura ou ingressar num Curso Técnico Superior Profissional (CTeSP), que não confere grau académico.

Nestes cursos, criados em 2014, os alunos provenientes do ensino superior estão em maioria (76% em 2021/2022), mas a procura aumentou entre todos de forma exponencial, de 395 alunos no primeiro ano para 21.263 inscritos em 2022/2023.

Também aí há uma preferência pelas tecnologias, sendo que cerca de um terço dos inscritos estão concentrados em áreas como Design e Administração de Bases de Dados e de Redes Informáticas, Desenvolvimento e Análise de 'Software' e Aplicações Informáticas, Técnicas Audiovisuais e Produção dos Media, e Eletrónica e Automação.

Perante o cenário, os autores do relatório veem no ensino profissional um potencial parceiro na transição digital de Portugal, mas alertam para a "necessidade urgente" de valorizar socialmente esta via de ensino e de reforçar iniciativas que contribuam para a melhoria do desempenho dos alunos.

As fragilidades do ensino superior são reveladas nos resultados do estudo internacional PISA 2022, refere o relatório.

Além das quebras mais acentuadas no desempenho em todos os domínios, em comparação com os colegas dos cursos científico-humanísticos, o PISA 2022 confirmou igualmente que o desempenho dos alunos é tanto melhor quanto mais elevado é o estatuto socioeconómico.

"Quase metade dos alunos do profissional são oriundos de contextos de baixo estatuto socioeconómico, o que sugere ainda algum preconceito face a este tipo de ensino", refere o relatório.