Uma investigação do “Wall Street Journal” mostra que a FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation, o regulador dos depósitos bancário dos Estados Unidos) tem um ambiente de trabalho tóxico - com várias indicações de assédio sexual e misoginia - levando os funcionários a fugirem da entidade. Já há processos judiciais, queixas sindicais e acusações de discriminação, entre outras.
Entre os acontecimentos de que o jornal teve conhecimento encontram-se visitas a clubes de striptease, relações sexuais entre chefe e funcionária e várias ‘nudes’ enviadas a funcionárias da agência - e todos os homens visados nestes acontecimentos continuam na agência.
Várias funcionárias deixaram a FDIC por causa do que caracterizam como um ambiente sexualizado e por acreditarem que lhes eram dadas menos oportunidades do que aos seus colegas do sexo masculino, de acordo com as entrevistas do jornal a de 100 atuais e antigos funcionários, incluindo mais de 20 mulheres que se demitiram.
Durante as deslocações aos bancos de todo o país, onde os reguladores têm por objetivo avaliar a estabilidade financeira dos bancos, os funcionários do sexo masculino falavam abertamente sobre a aparência das colegas femininas. Uma antiga funcionária recordou que os seus colegas diziam que as mulheres precisavam de usar o sexo para progredir na FDIC, enquanto olhavam para ela.
Lauren Lemmer, uma antiga funcionária que esteve em formação, deixou o seu emprego em 2013, após três anos em que, segundo a própria, lhe foram negadas oportunidades de progredir, foi seguida até ao seu quarto de hotel em Dallas por um colega do sexo masculino durante a formação, foi convidada para um clube de strip em Seattle por outros funcionários e recebeu uma ‘nude’ (fotografia em que a pessoa que envia posa nua ou semi-nua, muitas vezes com os órgãos genitais à mostra) não solicitada por um colega. "Era apenas uma parte aceite da cultura", afirmou.
Outra funcionária, Neha Singh, entrou em 2017 para a FDIC, como estagiária. No início, Singh, participava nos convívios com os colegas. Com o tempo começou a retirar-se, mas a pressão dos colegas para ir sair e beber todas as noites, especialmente quando viajava, continuava. E alguns dos colegas mais velhos acusavam-na de os ignorar, quando ela não queria ir sair. Acabou por sair em 2022 e, no seu relato ao jornal, indica ter sido explícita que saía devido à cultura misógina da empresa.
Já em 2020 o inspetor-geral da agência tinha concluído que as políticas do FDIC para prevenir, identificar e disciplinar o assédio sexual eram insuficientes.
Além do ambiente sexualizado, também o álcool reinava entre a empresa. O hotel de 11 andares do FDIC nos arredores de Washington, onde os funcionários de fora da cidade ficam quando participam em formações, era um centro de festas. Tanta festa acabou, inclusive, por originar uma conta da rede social Instagram, que em 2021 publicou o seguinte: “Se não vomitaste do telhado, já foste realmente um FIS [termo usado para os funcionários em formação]?”.
Perto do hotel chegaram a ser encontrados funcionários a conduzir sob o efeito de álcool.
Mas nem todos os casos passaram sem nenhuma consequência. Randal Ditch, um funcionário sénior, foi despromovido em 2014 para um cargo de não supervisor depois de ter tido relações sexuais duas vezes com uma funcionária que estava na sua equipa e uma série de outras violações de regras. Segundo os registos, Ditch incitou a mulher a não "ser maricas" e a beber uma dose de whisky durante o horário de trabalho. O regulador não aplicou uma pena mais grave a Ditch por causa dos seus "25 anos de desempenho satisfatório". Só em 2023 saiu da FDIC.
Em declarações ao “Wall Street Journal” a FDIC disse que não identificou questões relacionadas com o assédio sexual desde 2020 em sessões de auscultação, inquéritos anuais, inquéritos de saída e reuniões entre funcionários. Mas, ao Wall Street Journal, o regulador recusou-se a responder a perguntas pormenorizadas, quer sobre o assédio, quer sobre o consumo abusivo de álcool.