O Banco de Portugal (BdP) reviu em forte alta a sua projeção para o crescimento da economia portuguesa este ano. O Boletim Económico de junho, publicado esta sexta-feira, aponta para uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) português de 2,7% em 2023, depois de em março o banco central ter antecipado apenas um avanço de 1,8%.
Esta revisão em alta segue a tendência das principais organizações que acompanham a economia portuguesa e que, nas últimas semanas, têm vindo a melhorar a sua projeção de crescimento para o PIB português este ano. Foi o caso do Fundo Monetário Internacional (FMI), que aponta para 2,6%, da Comissão Europeia, que aponta para uma expansão de 2,4%, e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico, que antecipa 2,5%.
Ainda assim, a nova projeção do BdP para este ano (2,7%) é a mais otimista entre as publicadas até agora. E fica muito acima do número do Governo, que no Programa de Estabilidade, divulgado em abril, apontava para 1,8%.
Além de melhorar o cenário de crescimento para a economia portuguesa para 2023, o BdP também reviu em alta os números de 2024 e 2025. Aponta agora para 2,4% e para 2,3%, respetivamente, quando em março antecipava um crescimento de 2% em ambos os casos.
Tendo em conta as projeções de crescimento para 2023, 2024 e 2025, o BdP qualifica o desempenho da economia portuguesa como “robusto, dando continuidade à convergência com a área do euro, com as exportações a crescerem mais do que a procura externa”. Ou seja, antecipa um ganho de quota de mercado das exportações portuguesas.
Inflação ainda acima dos 5% este ano
Quanto à evolução dos preços, o BdP espera um recuo da inflação mais marcado este ano do que antecipava em março. Aponta para uma inflação média anual, medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) de 5,2% em 2023, quando a anterior projeção era de 5,5%.
Ainda assim, isto significa que, em termos de média anual, a inflação vai manter-se acima dos 5%.
Depois, o BdP espera um recuo para 3,3% em 2024 e para 2,1% em 2025, “próximo do objetivo do Banco Central Europeu, refletindo a redução das pressões inflacionistas externas e a maior restritividade da política monetária”, escreve o BdP.
A instituição liderada por Mário Centeno traça um retrato da economia portuguesa, destacando que “é hoje uma economia diferente, em resultado de alterações estruturantes”.
Em particular, “o aumento das qualificações da população, a estabilidade financeira – refletida na redução do custo de financiamento e no aumento da poupança das empresas e famílias – e a alteração do tecido empresarial resultam numa economia capaz de acompanhar a procura internacional e de gerar riqueza e procura interna sustentáveis”.
Destaca ainda o mercado de trabalho, que “mantém-se sólido, em resultado do desempenho económico, mas também para ele contribuindo”.
Quanto ao investimento, o banco central considera que “a absorção de fundos europeus pelo setor privado, ainda limitada, permitirá sustentar o investimento produtivo e mitigar o impacto da subida das taxas de juro”.
Saldo orçamental com superávite já em 2024
Pela primeira vez, o Boletim Económico do BdP inclui projeções para as finanças públicas. E o que dizem? A instituição aponta para um défice orçamental este ano de apenas 0,1% do PIB. Um valor que compara com a projeção de um défice de 0,4% inscrita pelo Governo no Programa de Estabilidade, publicado em abril.
Mais ainda, o BdP antecipa um superávite nas contas públicas portuguesas já em 2024, de 0,2% do PIB, o mesmo valor que também projeta para 2025. “O saldo orçamental deve situar-se próximo do equilíbrio até 2025, assumindo as medidas de política orçamental já adotadas e anunciadas”, destaca o BdP.
Quanto ao rácio da dívida pública, “espera-se uma diminuição do rácio da dívida pública de 20 pontos percentuais, para 92,5%”, antecipa o BdP. Uma evolução “beneficiando dos excedentes primários e do crescimento nominal da economia”.
O banco central estima que o saldo primário (isto é, excluindo o custo do serviço da dívida) deve rondar 2,5% no horizonte de projeção, notando que é um valor “ainda abaixo dos 3,1% registados antes da crise pandémica”. E vinca que “um excedente primário idêntico ao de 2019 permitiria sustentar a trajetória de redução do rácio da dívida para além do horizonte de projeção”.
Recorde-se que, nessa altura, Mário Centeno, atual governador do Banco de Portugal, era o ministro das Finanças de António Costa, num Governo PS ainda suportado pela ‘geringonça’, ou seja, que contava com o apoio do BE e do PCP.