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Economia

1978: O ano do ‘socialismo na gaveta’

FMI. Portugal teve de assinar um segundo grande acordo com o Fundo Monetário Internacional em junho, mas acabou por não usar o financiamento. 14 milhões de contos vieram de outras fontes

Ramalho Eanes (à direita) acabou por exonerar Soares (à esquerda) três meses depois do Governo assinar o resgate. Na foto, à esquerda de Eanes, Henrique Granadeiro, chefe da Casa Civil da Presidência da República
D.R.

Ao ano de 1978 ficou colada como uma pastilha elástica uma expressão atribuída a Mário Soares, o então primeiro-ministro. O líder do PS teria dito que o socialismo tinha de ser “metido na gaveta”. Na verdade, o que Soares disse, aquando da tomada de posse do segundo Governo a que presidiu, depois de mais um ‘golpe de rins’ político em que obteve o apoio do CDS, foi que “não se trata, agora, de meter o socialismo na gaveta, mas de salvar a democracia”. Mas a frase que ficou para a História foi a outra.

Em qualquer caso, o sentido político-económico era claro: “Não se trata agora de construir o socialismo, trata-se de recuperar a economia deste país para manter e salvar a democracia portuguesa”, disse Soares na apresentação do programa do II Governo Constitucional, que passaria com a derrota das moções de rejeição do PSD e do PCP e com governantes oriundos do CDS encaixados no Executivo, entre eles Basílio Horta. Ao colocar simbolicamente ‘na gaveta’ o socialismo, o Governo ficava de mãos livres para ir mais longe do que Soares e o ministro das Finanças, Medina Carreira, tinham tentado em fevereiro e agosto do ano anterior com os pacotes de austeridade e de reversão parcial das medidas dos Governos chefiados por Vasco Gonçalves em 1975.