Economia

BPI: “Seria inconsciência dizer que o momento que vivemos não nos deve criar uma grande prudência e cautela”

Escassez de bens, inflação elevada, estrangulamento de linhas de distribuição juntam-se num “cenário muitíssimo complexo”, diz João Pedro Oliveira e Costa. O incumprimento pode subir, admite o líder do BPI, que estima subir salários em 2,5% em 2023

O CEO do BPI, João Pedro Oliveira e Costa
José Fernandes

É preciso cautela porque o cenário que o mundo ocidental tem pela frente é complexo. “Seria inconsciência dizer que o momento que vivemos não nos deve criar uma grande prudência e cautela e estarmos bastante atentos sobre os acontecimentos”. É a posição do presidente executivo do BPI, transmitida em conferência de imprensa, sobre o período de inflação elevada que o país (e o mundo ocidental) vive.

“A inflação é o tema mais preocupante neste momento”, declarou Oliveira e Costa, no dia em que o Instituto Nacional de Estatística mostrou uma aceleração para 9,1% em julho, inédito desde o fim de 1992.

Há incertezas, admite o banqueiro, sobre as duas razões que mais contribuem para essa subida da inflação. Por um lado, o “estrangulamento das linhas de distribuição”, em que “ninguém percebeu ainda muito bem como se vai desbloquear”. “O que estamos a observar é que não é tão rápido como todos imaginávamos”, continuou.

Do lado da energia, “tem-se verificado muito difícil de contrariar”, frisou o CEO, lembrando que há casos sem fontes alternativas e em que qualquer redução do fornecimento acaba sempre por afetar os preços. “Vamos ter uma grande prova dos nove, que vai ser o inverno”, anteviu.

Juros com pouco impacto

Para combater a inflação, o Banco Central Europeu começou a subir as taxas de juro, tirando-as da fasquia de zero para 0,5%. O BPI estima que a taxa venha a estar entre 1% e 2%. Se isso acontecer, não há motivos para receio, segundo o presidente do banco que, esta sexta-feira, apresentou um crescimento de lucros de 9% no primeiro semestre.

“Não considero que tenha um impacto negativo significativo na maioria da economia, quer do lado das empresas, quer do lado das empresas. Há espaço para o movimento não criar disrupção”, continuou Oliveira e Costa

Incumprimento pode subir

A este “cenário muitíssimo complexo”, ainda se junta a escassez de produtos, como automóveis, que não existem (e que limitam o crédito ao consumo), ou habitação (casas que não existem para compra).

Neste contexto, o banco considera ter uma cobertura das carteiras de crédito, tanto por imparidades como pelas garantias, “claramente suficiente para fazer face a uma situação mais adversa”. Porém, Oliveira e Costa admite que “se a situação se agravar mais significativamente, vai haver aumento de imparidades e de incumprimentos”, lembrando, porém, que no caso do BPI, o rácio malparado é de 2%, abaixo da média.

Entretanto, em 2,5% é quanto os salários dos trabalhadores do BPI podem subir em 2023, já que é essa a estimativa que entrou nos cálculos dos fundos de pensões. Um valor “puramente preliminar”, já que só no fim do ano é que será decidido com os sindicatos, e que dependerá da manutenção ou não dos níveis de inflação e do que ali será “core” ou temporário.