Quem achar que o Banco Central Europeu vai vacilar na resposta à chamada fragmentação na transmissão da política monetária está a "cometer um grande erro", disse Christine Lagarde, presidente do banco central da zona euro. "A resposta será eficaz, proporcional, e dentro do mandato do BCE. Quem duvidar deste compromisso estará a cometer um grande erro", disse aos deputados europeus, numa audição no comité de assuntos económicos e financeiros do Parlamento Europeu esta segunda-feira, 20 de junho.
Lagarde reafirmou a intenção de que o banco pretende aumentar a taxa de juro de referência em 25 pontos-base em julho e que pretende aumentar a taxa de juro de novo em setembro. E antecipa que a subida prevista para setembro poderá ser superior se as perspetivas de inflação se mantiverem ou deteriorarem.
Em junho, além do anuncio de aumentos das taxas de juro, o BCE pôs igualmente um ponto final no programa de compra de ativos. E recentemente, perante o descolar dos spreads da dívida soberana de países mais vulneráveis face à alemã fez com que o BCE anunciasse um instrumento anti-fragmentação que visa promover uma eficaz transmissão da política monetária por todos os países da moeda única - e para evitar outra crise de dívida soberana como a do início da década passada."
A calibração deste aumento de taxa irá depender da atualização das perspetivas de médio-prazo da inflação", disse. Se estas se mantiverem ou se deteriorarem, "um maior incremento será apropriado na nossa reunião de setembro", acrescentou, antecipando já um aumento superior a 25 ponto-base para daqui a dois meses.
"Para lá de setembro, com base na nossa avaliação atual, prevemos que será apropriado um caminho gradual mas sustentável de aumentos adicionais das taxas de juro", considerou. A previsão do BCE para a taxa de inflação média anual de 2022 é de 6,8%, caindo para 3,5% em 2023 e 2,1% em 2024, já em linha com o alvo de 2% de inflação no médio-prazo.
O BCE irá abandonar mais de uma década de taxas de juro historicamente baixas em julho com a subida das taxas de juro, meses depois dos bancos centrais da libra esterlina e do dólar norte-americano já o terem começado a fazer perante taxas de inflação em máximos de décadas no Reino Unido e nos EUA.
Na zona euro, a inflação atingiu os 8,1% em maio, um máximo desde a criação da moeda única, o que provocou uma mudança na política monetária do banco de Frankfurt, com uma subida de 39,2% nos preços da energia e de 7,5% nos bens alimentares.
Os problemas nas cadeias de abastecimento e a dificuldade da oferta acompanhar a procura à medida que as economias reabriam depois das restrições da pandemia da covid-19 eram dois fatores que já estavam a impulsionar uma subida dos preços no ano passado. Este ano, a invasão da Ucrânia juntou-se ao rol, tirando do mercado matérias-primas provenientes da Rússia, provocando um novo disparar dos preços em bens como cereais e crude.
Segundo Lagarde, "a atividade da zona euro está a ser negativamente afetada pelos altos custos da energia, perturbações de abastecimento intensificadas e uma maior incerteza, que afectam o setor industrial em particular". O crescimento está a ser suportado pelo setor dos serviços, tal como pelo baixo desemprego, que estimula o consumo.
"Espera-se que obstáculos dos altos custos da energia, a deterioração das condições de comércio, uma maior incerteza e o impacto adverso da inflação no rendimento disponível acabem por se dissipar gradualmente", acrescentou. O crescimento da zona euro deverá ser, assim, de 2,8% este ano e de 2,1% em 2023 e 2024.