A francesa Engie está a avaliar o impacto que a intervenção dos governos português e espanhol no mercado ibérico de eletricidade (Mibel) terá no desempenho das centrais hidroelétricas que adquiriu à EDP.
"Evidentemente avaliaremos os impactos", afirmou ao Expresso a vice-presidente executiva da Engie, Claire Waysand, em declarações à margem de uma conferência promovida em Bruxelas pela associação europeia de empresas elétricas, a Eurelectric.
A gestora da Engie não quis tecer comentários particulares sobre a intervenção ibérica no mercado grossista, que começou a produzir efeitos esta quarta-feira, por via da criação de um custo de referência que irá balizar o preço a que as centrais de ciclo combinado a gás natural podem vender a sua eletricidade em Portugal e Espanha durante os próximos 12 meses.
Ao fixar esse limite para as centrais a gás, os governos dos dois países esperam baixar o preço médio do mercado grossista de eletricidade, limitando também os ganhos que outros produtores, incluindo os hidroelétricos, estavam a ter à boleia de preços especialmente elevados motivados pelo disparo da cotação do gás.
Recorde-se que a venda das barragens da EDP à Engie foi concluída em dezembro de 2020, bem antes de os preços grossistas de eletricidade iniciarem (em meados de 2021) uma escalada para níveis recorde.
Apesar dessa escalada, que terá proporcionado à Engie preços de venda de eletricidade superiores aos antecipados no momento do investimento, o grupo francês enfrentou também, a partir de 2021, uma situação de seca em Portugal, afetando negativamente a disponibilidade de recursos hídricos.
Claire Waysand não comentou a medida de limitação de preços grossistas em Portugal e Espanha, mas lembrou que "estamos num período excepcional". "Estamos muito atentos a quaisquer medidas que possam ter impacto sobre as intenções dos investidores", afirmou a gestora da Engie.
A mesma responsável assegurou que o grupo francês está satisfeito com o investimento feito em Portugal, com a compra à EDP de seis barragens no Douro por 2,2 mil milhões de euros.
"Estamos contentes de ter esta capacidade renovável, hidroelétrica, em Portugal. São bons ativos", referiu a vice-presidente da Engie.
O Expresso viajou a Bruxelas a convite da Eurelectric.