Economia

BCP não põe dinheiro de lado para processo de €900 milhões de Berardo

Miguel Maya insiste que cobra créditos "de forma correta" e que é isso que está a fazer com os empréstimos dados ao comendador, em que estão cerca de 300 milhões por devolver

O BCP não vai constituir provisões para o processo judicial de 900 milhões de euros de que foi alvo, juntamente com a Caixa Geral de Depósitos e o Novo Banco, com origem em José Berardo. A garantia é do próprio presidente executivo do banco privado, em conferência de imprensa esta segunda-feira, 16 de maio, na sede, em Oeiras.

“Não tenho nenhuma perspetiva de qualquer imparidade. Absolutamente nenhuma intenção”, frisou Miguel Maya aos jornalistas. O BCP financiou em mais de 300 milhões o empresário nas últimas décadas.

O empresário Joe Berardo colocou uma ação na justiça portuguesa com o intuito de pedir uma indemnização de 900 milhões de euros aos bancos que o financiaram, e a quem não devolveu os créditos. Um total de 800 milhões são justificados com incumprimento contratual, outros 100 milhões devem-se a danos morais.

Em relação a como vai responder a este caso, o CEO do BCP não se alongou: “O banco faz o que tem de fazer para cobrar os créditos que tem de cobrar, de forma correta”, disse Miguel Maya.

A nível de crédito, grande parte das perdas poderão já estar cobertas, tendo em conta que já há incumprimento do empresário há vários anos. Mas Miguel Maya garante que a essas não são agora acrescentados novos encargos.

O Jornal Económico tinha já escrito que nos três grandes bancos não deveriam ser constituídas novas imparidades para este risco jurídico - que no BCP não é novo, já que há um outro grupo empresarial seu cliente que colocou também um processo milionário (317 milhões colocados pela família Goes Ferreira).

No processo, a que o Expresso teve acesso, o empresário considera que os bancos esconderam a sua real situação financeira, e que foi por isso que as garantias associadas aos empréstimos (em especial, as ações do próprio BCP) não foram suficientes para ressarcir os bancos. José Berardo diz-se enganado.

Foi a resposta do comendador às ações judiciais que já foram colocadas pelo conjunto destes três bancos (em conjunto ou individualmente), em que tentam recuperar os créditos concedidos. A mais sonante é de 962 milhões de euros, através da qual os bancos também esperam conseguir ter acesso à coleção de arte que está exposta no Centro Cultural de Belém.

As imparidades para cobrir eventuais perdas em créditos ascenderam a 89,9 milhões de euros no primeiro trimestre, menos do que os mais de 110 milhões no mesmo período de 2021. Já nas outras imparidades e provisões (entre os quais o risco jurídico), o BCP colocou 164 milhões (mais 33 milhões que no período homólogo).