Economia

AHRESP aberta a aumentos de salário mínimo, mas quer novo modelo de contratação

Setor da hotelaria e restauração desafiou os sindicatos a fazer uma modernização das contratações coletivas, antecipando as negociações

Foto: JOSÉ COELHO/LUSA

O sector do alojamento e restauração "perdeu um quarto da sua população" nos últimos anos, devido aos efeitos da pandemia de covid-19 no turismo, e é um falso problema dizer que resolver a falta de mão-de-obra neste momento de recuperação passa apenas por aumentar salários, salientou Carlos Moura, vice-presidente da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), na conferência promovida pela associação "Que profissionais teremos amanhã?", que decorre esta quarta-feira no Porto.

"Fala-se muito que tem de se pagar melhor, e nunca nos opusemos a aumentos em profissões de salário mínimo. Mas não é totalmente verdade que o problema de falta de mão-de-obra no sector passe só por aí", salientou Carlos Moura.

"Partimos de um ponto baixo e as empresas podem pagar mais, mas não se podem aumentar salários se não houver evolução de riqueza", sublinhou o vice-presidente da AHRESP, lembrando que a tesouraria das empresas, "muitas delas nano-empresas", ficou seriamente abalada com a pandemia.

"Todos gostaríamos de ter melhores salários. Mas não é possível fazer aumentos sucessivos nas categorias de salário mínimo se não aumentarmos também os salários em outras categorias", lembrou o responsável da associação, frisando que "para isso é preciso haver criação de riqueza, e sobretudo a organização do trabalho tem de ser diferente".

"Este ano, propusemos às duas principais organizações sindicais, a Inter Sindical e a UGT, que se olhe os instrumentos de contratação coletiva de forma mais atualizada", adiantou Carlos Moura, referindo que "as organizações sindicais costumam ser muito conservadoras, temos de sair deste marasmo e modernizar as contratações coletivas".

"Queremos antecipar em cinco meses as negociações com as organizações sindicais, e pôr em cima da mesa um novo clausulado", explicitou ao Expresso o vice-presidente da AHRESP. "Desafiámos as organizações sindicais a começarem as negociações em julho, quando habitualmente decorrem a partir de outubro".

Além das tabelas salariais, o tema que acaba por ser predominante nestas negociações, a AHRESP também quer colocar na agenda com os sindicatos "as cláusulas de organização de trabalho, a nível de horários" e de "valorização das profissões e de formação". O objetivo da associação é conseguir uma fórmula de "relacionar ganhos de produtividade com a política salarial".

Carlos Moura frisou ainda que "do lado das empresas temos de valorizar as profissões, atrair e cativar talento ao sector, e adiantou que a AHRESP está a pensar fazer um estudo sobre quais devem ser as funções de futuro no turismo. Dá o exemplo dos cozinheiros, que são hoje uma profissão reconhecida, "mas também temos o empregado de mesa, uma função que pode ser mais valorizada".