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Economia

1994. Viagem ao fantasma da taxa de inflação passada

É preciso recuar a julho de 1994 para encontrar uma taxa maior do que a atual. Com uma diferença: naquela altura estava a descer

Os protestos da Ponte 25 de abril marcaram aquele verão
Arquivo Expresso

Consequência diabólica. Na semana em que o Instituto Nacional de Estatística revelou a primeira estimativa para a taxa de inflação de março — 5,3% —, Aristides Teixeira liderou um protesto na Ponte 25 de Abril contra a subida do custo dos combustíveis. Os preços estão a subir ao ritmo mais alto em 30 anos, precisamente desde julho de 1994, o mês dos protestos na Ponte 25 de Abril que marcaram o fim do cavaquismo. Um ano mais tarde, em outubro de 1995, António Guterres venceria as legislativas.

A inflação homóloga desse início do verão de 1994 era tão alta como a que agora enfrentamos. Com uma diferença: estava a descer. Agora chegámos a 5,3%, mas tudo indica que a escalada vai continuar. Portugal tem, aliás, uma taxa inferior a muitos outros países europeus e os fatores de pressão que nos trouxeram até aqui não desapareceram. Pelo contrário, os cenários mais adversos para a evolução dos preços este ano colocam a taxa média anual — a média das taxas homólogas ao longo dos 12 meses do ano — perto de 6% (ver texto na página anterior). Há 30 anos, a tendência era outra. A economia vinha numa trajetória de descida da inflação. Poucos meses antes, em 1992, ainda havia taxas homólogas de dois dígitos e estavam também bem presentes na memória de muitos portugueses as taxas acima de 20% e até 30% dos anos 80.