De um lado, prazos concretos para o fim de compras de ativos e a porta aberta para o aumento de taxas de juro. Do outro, uma “abordagem de esperar e ver”. As atas da última reunião do Banco Central Europeu, que decorreu a 9 e 10 de março, foram divulgadas esta quinta-feira, 7 de abril, e as opiniões sobre o passo seguinte divergem, mas a tendência para apertar a política monetária sobressai.
“As atas revelaram ainda alguma divisão entre os membros conselho do BCE. No entanto, regista-se que aqueles que defendem uma postura mais ‘hawkish’ [restritiva] estão agora claramente em maioria”, resume Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europa. Estas atas vieram então “corroborar a surpreendente postura mais agressiva do BCE na última reunião do dia 10 de março. (...) O mercado esperava um BCE talvez mais empenhado na salvaguarda da recuperação económica”, considera o economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Rosa.
“Uma grande parte dos membros do BCE acreditam que o atual nível de inflação exige uma ação imediata por parte do Banco Central, no sentido de normalizar a política monetária”, complementa Nuno Mello, analista da XTB, já que os membros apontam que a inflação crescente deverá continuar a persistir, e “surgiram muitas dúvidas de que a inflação possa convergir para os 1,9% no curto prazo”.
Desta forma, “o ponto mais importante revelado por estas atas será a vontade demonstrada por vários membros de pôr fim ao programa de compra de ativos durante o verão, o que abriria a porta para subidas das taxas de juro durante o último trimestre do ano”, destaca Ricardo Evangelista. O analista da XTB vê como possível um aumento da taxa de juro já no terceiro trimestre deste ano. “Ora isso significa que os empréstimos a particulares e empresas vão ficar mais caros”, alerta.
Face às novidades, o euro reagiu em alta. Registou ganhos face a outras principais divisas, que Evangelista descreve, no entanto, como “modestos”. “Com a Fed, que está muito mais focada na necessidade de controlar a inflação, tendo revelado ontem que irá começar a subir taxas de juro ao ritmo de 0,5% de cada vez já a partir de maio, a discrepância face à postura do seu congénere Europeu mantém-se, o que poderá gerar mais perdas para a moeda única”, explica.
No futuro, o desafio é estabelecer um equilíbrio entre a necessidade de controlar a inflação e evitar um choque para as economias da região”, conclui o diretor da ActiveTrades. A inflação na Europa tem sido, em grande medida, impulsionada pela alta dos preços dos combustíveis fósseis, uma variável maioritariamente exógena, “facto que retira eficácia às políticas monetárias contracionistas”, refere contudo Paulo Rosa.