As sanções anunciadas pelos Estados Unidos da América e o Reino Unido a bancos russos têm ramificações que chegam a Portugal. O grupo estatal VTB é acionista com presença no capital do Banco Finantia, posição, aliás, que reforçou em 2019. Para já, as sanções europeias não são conhecidas, mas, garante o banco ao Expresso, a acontecerem na mesma linha, afetariam sobretudo a distribuição de dividendos.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou esta quinta-feira, 24 de fevereiro, sanções que incluem o congelamento de ativos dos grandes bancos russos, sendo que o The Guardian refere que o VTB, que é o segundo maior banco da Rússia, está aí incluído, bem como o seu presidente Denis Bortnikov. A Associated Press noticiou, também, que este era um dos bancos que podiam vir a ser alvo de sanções por parte dos Estados Unidos da América, o que foi confirmado esta tarde por Joe Biden. Estas decisões são a resposta à invasão russa da Ucrânia.
Com sede na Rússia, o grupo VTB tem presença em inúmeros países, como o próprio Reino Unido, mas também outros geografias como a Alemanha e a Suíça, e Hong Kong e Angola, segundo o site oficial. Em Portugal, o VTB Group tinha, no fim de 2020, uma participação acionista de 12,2% do capital do Finantia, de acordo com o último relatório e contas do banco (não há ainda o relatório relativo a 2021).
A posição foi reforçada nos últimos anos, já que em 2018 a posição era de 9,7% – nessa altura, a participação era atribuída à empresa VTB Capital PE Investment Holding (Cyprus) Ltd.
O grupo VTB alcançou, em 2021, os mais altos resultados de nível em termos de volume de negócios, rentabilidade e eficiência, segundo divulgou esta semana.
Conselho Estratégico com nomes ligados ao banco
Além disso, há nomes russos ou ligados ao VTB no Conselho Estratégico do Finantia, um órgão de aconselhamento cujos membros não passam pelo crivo do Banco de Portugal (como acontece nos casos do Conselho de Administração e da Comissão de Auditoria): são eles Igor Souvorov, Alexei Mitrofanov e ainda Riccardo Orcel. Os dois primeiros são cidadãos russos há anos ligados ao grupo financeiro, o terceiro é um cidadão espanhol com funções de topo no VTB.
Neste momento, e segundo a informação recolhida pelo Expresso, o banco português não foi informado de sanções da União Europeia que afetem o seu acionista russo, nem os cidadãos que fazem parte do seu Conselho Estratégico.
A acontecer, diz fonte do banco, os efeitos serão na eventual distribuição de dividendos relativos aos resultados de 2021 – contas ainda não fechadas nem auditadas. Também há transações com partes relacionadas, mas, nesse caso, o relatório e contas não especifica, por exemplo, se há depósitos deste acionista específico. Haverá, além disso, problemas se tivesse a intenção de alienar esta posição.
Já se houver sanções aplicadas aos cidadãos russos naquele órgão, a mesma fonte transmite que poderá dar-se a saída dos nomes que integram o Conselho Estratégico.
A Finantipar, de António Guerreiro (antigo presidente executivo do banco, que saiu da administração – pouco depois de um processo de contraordenação do Banco de Portugal – e que é o presidente do Conselho Estratégico), é a maior acionista do Finantia, banco centrado no aconselhamento e assessoria financeira a operações, não sendo uma instituição de retalho.
Além de Portugal, o Banco Finantia tem presença, através de agências ou escritórios, em Espanha, Inglaterra, EUA, Países Baixos e Malta.