As elétricas espanholas estão a ameaçar encerrar as suas centrais nucleares se o Governo espanhol levar por diante todas as medidas que anunciou para tentar poupar os consumidores espanhóis à vaga de elevados preços grossistas de eletricidade.
Uma das medidas do Governo espanhol é a de cortar a remuneração dos produtores de eletricidade que não emitem dióxido de carbono (CO2), em montante equivalente ao alegado benefício extra que esses produtores estão a ter por venderem a sua energia no mercado diário ao mesmo preço das centrais alimentadas a gás natural.
Num comunicado divulgado esta terça-feira o Foro Nuclear, associação que representa os interesses da indústria nuclear espanhola, deixa o alerta logo no título do documento: "Fecho da atividade do parque nuclear se o projeto de lei do CO2 for em frente nos termos previstos".
"O projeto de lei pelo qual se atuará sobre a remuneração do CO2 não emitido no mercado elétrico, nos termos em que está previsto, somado à excessiva pressão fiscal atual, levará ao encerramento da atividade de todo o parque nuclear", refere a organização.
O Foro Nuclear sublinha que a continuação de operações das centrais apenas será possível com preços acima dos 57 a 60 euros por megawatt hora (MWh).
A mesma entidade lembra que um dos princípios da medida do Governo espanhol é reduzir as remunerações das centrais que entraram em funcionamento antes de outubro de 2003, isto é, antes de a União Europeia decidir avançar com um mercado de direitos de emissão de CO2.
Segundo o Foro Nuclear, as centrais nucleares espanholas vêm funcionando com regimes de renovação periódica de licenças, que implicam investimentos adicionais por parte das empresas, com decisões de investimento que têm em conta a existência do mercado de emissões de CO2.
"Se este projeto de lei estivesse em vigor, não se teria solicitado as renovações das licenças", refere o Foro Nuclear.
A ameaça de encerramento das centrais nucleares é particularmente relevante no quadro do mercado ibérico, já que estas centrais somam uma potência superior a 7 gigawatts (GW), sendo uma das principais fontes de produção de eletricidade em Espanha, e ajudando, por via do volume estável de energia, a baixar ou limitar o preço grossista da eletricidade.
A história do mercado ibérico de eletricidade (Mibel) mostra também que as paragens que vão ocorrendo no parque nuclear têm influência no preço diário do mercado, que, com menos disponibilidade nuclear para produzir, tende a registar preços grossistas mais elevados.
O comunicado do Foro Nuclear surge no mesmo dia em que o Mibel alcançou um novo máximo histórico no preço diário da eletricidade, que na produção contratada para esta quarta-feira ultrapassa os 172 euros por MWh.