O investidor norte-americano John Textor continua interessado no Benfica. Quer comprar ações (8,70 euros são baratas, diz), admite financiar a SAD na emissão de obrigações de 35 milhões de euros em curso (ou até investir 55 milhões), mas pede à equipa de Rui Costa para não o travar com base nos estatutos. Queixa-se de que não pode ser considerado uma empresa concorrente, o que coloca limites ao investimento em ações (e que pode ser travado já na próxima semana em assembleia-geral da SAD - mas mesmo antes disso, o clube já decidiu que não haverá negócio).
São estas as mensagens do investidor americano numa nota que deixou no seu site, naquele que é o seu segundo comunicado sobre o Benfica, em que agora acrescenta que se reuniu com Luís Filipe Vieira para falar sobre o assunto, mas repetindo que foi um banqueiro de investimento em Londres que o apresentou a José António dos Santos, o "rei dos frangos", com quem fechou o acordo para vir a adquirir 25% do capital da SAD do Benfica.
Textor quer mais ações e diz que 8,70 euros é barato
Apesar de o investimento em ações cotadas ser um tema delicado e que tem de respeitar várias regras de mercado, o investidor americano faz, na sua nota, comentários sobre o preço de ações que, no limite, pode até ser impedido de adquirir, caso não tenha autorização do clube.
“Não há nada de questionável num investidor americano, que ama o futebol e a sua ligação à comunidade, que vê 8,70 euros como um ótimo preço barato”, escreve Textor nessa nota.
As ações do Benfica têm negociado em torno de 3 euros, e esta sexta-feira, 16 de julho, logo após a demissão de Luís Filipe Vieira e as palavras de Textor, dispararam 20%, para 4,44 euros, um preço que não se via desde março de 2020, quando falhou a oferta pública de aquisição do clube a 5 euros por ação.
Textor propôs-se pagar 8,60 euros por ação da SAD, segundo o despacho de investigação do Ministério Público, falando Textor neste comunicado em 8,70 euros. “Tenho o talento, a experiência na tecnologia, media, jogos, aplicações de consumo e Wall Street para levar o vosso preço de 3 euros a um valor muito mais alto”, promete. A baixa troca de ações na bolsa nacional é a justificação para o baixo preço, diz.
“Vou oferecer-me para comprar ações a qualquer acionista que queira sair, ou que a gestão queira que saia”, adiantou Textor, que tem o acordo para, até 15 de setembro, vir a adquirir 25% do capital a José António dos Santos (que fechou contratos promessa de compra e venda com acionistas como José Guilherme e Quinta de Jugais para reforçar os seus 16% para 23% de participação).
Tenta evitar chumbo em reunião na próxima semana
Esta aquisição está dependente da aprovação do clube, já que Textor e o seu universo empresarial são considerados empresas concorrentes e, segundo os estatutos da SAD, quando assim é, precisam de autorização do clube para superar a fasquia de 2% do capital. O investidor, de mais de 50 anos, deixa um apelo ao clube, e considera que, embora esteja ligado ao desporto, não é uma entidade concorrente. Esse limite nos estatutos foi criado “para ter a certeza de que o Sporting não se tornava acionista”, não para impedir o seu investimento, defende.
“Pedi à administração para parar de fazer jogos com a definição de entidade concorrente”, indicou, identificando-se como um “indivíduo que está ligado a uma empresa de streaming televisivo que promove a Benfica TV, que doa o seu tempo e dinheiro a uma organização de caridade para atletas estudantes, e que está a considerar investir em clubes que podem dar uma colaboração atrativa e rentável para o Benfica" e que, por isso, "não deve ser visto como hostil”. Já se sabe que esteve interessado em adquirir o clube inglês Crystal Palace, por exemplo.
Textor diz que está disponível para vir imediatamente a Lisboa. Quer fazê-lo antes da assembleia-geral da SAD da próxima semana, que tem um ponto em cima da mesa: escolha do revisor oficial de contas, mas que, segundo o "Diário de Notícias", pode acabar também a discutir o chumbo à entrada deste investidor. Sem a autorização, morre o acordo de venda das ações do "rei dos frangos" a Textor, bem como as compras do banqueiro a José Guilherme e à Quinta de Jugais – de recordar que o empresário americano já fez um depósito caução neste negócio de 1 milhão de euros.
Benfica nega
Aliás, depois deste comunicado, o Benfica colocou um ponto final à mudança acionista que estava em curso no Benfica. O americano John Textor não vai ficar com 25% do capital da SAD, em troca de 50 milhões, pelo que José António dos Santos, conhecido como rei dos frangos continuará acionista.
"A Direção do Sport Lisboa e Benfica, na sua reunião de hoje, declara considerar inoportuna esta operação, pelo que à mesma se oporá, no exercício dos seus direitos e deveres, caso esta matéria venha a ser sujeita a deliberação em Assembleia Geral de Acionistas da Benfica SAD, tornando pública esta sua decisão de imediato por entender que a mesma contribui para esclarecer a posição do Sport Lisboa e Benfica a este respeito, evitando-se assim dúvidas e especulações", indica um comunicado, em que se acrescenta "que considera inoportuno receber, de maneira formal ou informal, o Sr. John Textor nesta altura".
Cobrir eventuais falhas na emissão de obrigações
Toda a polémica está a acontecer com a emissão de obrigações de 35 milhões de euros em curso, que decorre até dia 23 – data até à qual os investidores podem subscrever aqueles títulos, bem como cancelar eventuais ordens de compra que tenham dado. Textor promete intervir na operação se não for bem-sucedida.
O Benfica tem conseguido alcançar sempre os valores previstos de financiamento ao longo dos anos, e até aumentá-los, mas esta operação foi apanhada pelas buscas e detenções da investigação Cartão Vermelho, que tem Luís Filipe Vieira como principal arguido.
“Vou financiar imediatamente a parcela não financiada da atual emissão de obrigações, já que percebo (devido a rumores) que a emissão pode estar em dificuldades. Se o público decidir não comprar as obrigações (efetivamente emprestar dinheiro à SAD do Benfica), eu vou financiar a diferença”, promete o investidor – que, porém, não fez nenhum comunicado sobre esta temática ao regulador do mercado de capitais.
No comunicado no seu site, há alguns números que surpreendem: Textor assume que irá financiar até 55 milhões de euros (quando a emissão é de 35 milhões), e diz que está disposto a fazê-lo a uma taxa de 3%, comparando-a a uma taxa de 4,75% (quando a emissão tem associada uma taxa de 4%).
(Notícia atualizada com comunicado da direção do Benfica às 12h34)