“Ficou claro que o sr. se recusa sistematicamente e sem explicações plausíveis a admitir que seja titular de qualquer dívida. Não responde a nenhuma pergunta de forma construtiva. Resulta ainda claro que a sua única [missão] é construir a sua defesa. Nestes termos, em nome da dignidade dos trabalhos desta comissão, eu e todos os senhores deputados entendemos dar por terminada a mesma. Está encerrada esta audição. Boa tarde”.
Nem uma hora durou a sessão de Nuno Vasconcellos, antigo presidente do falido grupo Ongoing, na comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco, e Fernando Negrão, o deputado social-democrata que preside aos trabalhos decidiu intervir.
Só uma deputada fizera perguntas, Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, e não acabou bem “Não está aqui para nos ajudar, nem pretende esclarecer nada”. Por isso, Mortágua decidiu que não ia “dar tempo de antena ou palco”. A posição era a de todos os deputados e assim acabou a sessão parlamentar.
A audição foi tensa, e logo na sua intervenção inicial Nuno Vasconcellos, a ser ouvido por videoconferência a partir do Brasil - onde insistiu a dizer que estava há mais de dez anos -, tinha atacado o Bloco de Esquerda, pedindo para o partido tirar uma informação errada sobre uma acusação de corrupção de que foi absolvido. E foi precisamente com a deputada bloquista que começou a inquirição. Com trocas de palavras e sem respostas concretas. E interrupções permanentes.
Vasconcellos disse por várias vezes que não estava ali como acusado, mas sim como “convidado”, e que não admitia o tom acusatório. O líder da Ongoing, grupo que tem de pagar €520 milhões ao Novo Banco, deixou perguntas por responder.
Aliás, o presidente do grupo falido disse que as dívidas perante o Novo Banco não eram dele, mas da Ongoing (em administração judicial e, por isso, sem ligação a si), e recusou-se a nomear empresários que tinham ajudado, através de um aumento de capital, a diminuir garantias bancárias perante o Novo Banco - disse apenas que um deles era “padrinho do filho”. Sobre sociedades ‘offshores’, pouco explicou de concreto.
Crítica a partidos “falidos” e elogio a Vieira
Na audição, Nuno Vasconcellos elogiou Luís Filipe Vieira “um homem que se fez, um grande empresário”, incluindo-se num leque de grandes empresários que “durante 50/100 anos fizeram um ótimo trabalho. Lá vem a lenga lenga de que a culpa é dos empresários. Os bancos estavam cheios de dívida pública e a culpa é dos governos".
“Nos últimos 10 anos, houve uma crise mundial terrível, o país não escapou, nem os partidos políticos – alguns partidos estão falidos há mais de sete anos, e não se fala, só se fala em dois ou três empresários como se tivessem a culpa disto tudo”, atacou – na sua intervenção inicial tinha logo dito algo do género: “Não posso ter o meu nome incluído entre os responsáveis por levar Portugal à mais grave crise que enfrentou na sua história recente”.