Economia

Vieira e Novo Banco: “Não pedi perdões de dívida, nem perdão de juros, nem eles me foram dados”

“Não desviei esse dinheiro para contas pessoais, seja aqui em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo”, disse Luís Filipe Vieira para se distinguir de outros devedores do Novo Banco

TIAGO PETINGA

Luís Filipe Vieira rejeita que o Novo Banco tenha concedido quaisquer perdões de dívida na negociação dos créditos que o seu universo empresarial ali tem ou teve, e que estava perto de 400 milhões de euros. Ainda assim, é certo que houve renegociação de dívida, com redução de juros e prolongamentos de prazos.

“Não pedi perdões de dívida, nem perdão de juros, nem eles me foram dados”, declarou o presidente do Benfica na audição parlamentar da comissão de inquérito ao Novo Banco, onde ressalvou que “é do conhecimento público que muitos empresários tiveram perdões de capital e de juros”. “Não foi o meu caso”, repetiu. “Nem eu nem o Grupo Promovalor”, disse, esta segunda-feira, 10 de abril.

Sobre os outros devedores, declarou que não gastou os financiamentos concedidos pelo antigo BES às suas empresas “nem em iates, nem em aviões, nem em mordomias”. “Não desviei esse dinheiro para contas pessoais, seja aqui em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo”, continuou.

“Entreguei todos os ativos, não tive qualquer perdão de juros ou de capital, mantive o meu aval pessoal e ainda investi mais capital para ajudar na recuperação”, declarou Luís Filipe Vieira aos deputados, relativamente à dívida da Promovalor, o grupo imobiliário que criou.

Parte dos seus créditos já não estão na sua posse, tendo sido reestruturados com a venda a um fundo gerido pela C2 Capital Partners (antiga Capital Criativo) e a um outro gerido pela Oxy Capital. No primeiro caso Luís Filipe Vieira assegurou cerca de 4% do fundo FIAE (com 96% nas mãos do Novo Banco). No segundo, Vieira manteve 25% da empresa Verdelago, ficando os restantes 75% nas mãos do fundo Aquarius, gerido pela Oxy Capital.

Vieira frisou por várias vezes que em todas as relações com o Novo Banco foi sempre acompanhado e autorizado pelo Fundo de Resolução. “Nunca pedi tratamento privilegiado”, defendeu-se.

Disse também que as empresas sempre foram auditadas e que a opção de desinvestir em Portugal e apostar no Brasil e em Moçambique foi “a pedido dos bancos”, “com o objetivo de acompanhar uma tendência imposta pelo sistema bancário e pelas entidades de supervisão naqueles tempos de crise”.

Ao longo da audição, e mais precisamente quando foi questionado pela deputada do CDS Cecília Meireles, Vieira acabou por admitir que, afinal, entrou em incumprimento em alguns créditos e que o banco sabia que não teria condições para cumprir. Até recebeu cartas do banco a apontar para esse incumprimento. "Quando recebi essa carta sabe o que me disseram? É automático. Já andavam a tratar da reestruturação", disse.

Sobre a revisão dos juros, Vieira reiterou que não é um perdão. "Nunca tive um perdão de juros. Não tive um perdão de juros. Baixaram a taxa de juro. Como estava, tinham de baixar".

(Notícia atualizada às 17.12 com mais informações)