Pé no acelerador, o tempo é determinante na competitividade dos negócios. Um ano de pandemia teve um impacto brutal e sem precedentes na transformação digital da economia — tocando áreas resistentes à mudança como, por exemplo, o trabalho e o ensino. Rogério Carapuça, presidente da APDC — Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, chama a atenção para esta nova realidade, e cita um estudo da Mckinsey para sublinhar que “a transformação digital que ocorreu nos negócios durante a pandemia equivale à que aconteceria no espaço de três a quatro anos normais”.
“O mundo mudou muito num ano, graças à aplicação das tecnologias. O combate à pandemia tornou-se mais fácil, e sobreviver a ela também. Tudo acelerou. Não nos podemos atrasar, todos os meses contam, todos os atrasos são maus porque estamos em concorrência com outros países”, alerta Rogério Carapuça, em conversa com o Expresso em véspera do 30º Congresso da APDC, que se realizará a 12 e 13 de maio, sob o lema “Reinvenção com a Tecnologia”.
As tecnologias estão a mudar a atividade económica de forma exponencial, e em todos os sectores: desde a indústria, ao comércio e à saúde, passando pela governação, explica. E é isso que vai estar em debate no maior evento anual do sector das tecnologias de informação. O futuro é um tema em destaque. Serão abordadas questões como a inteligência artificial e a realidade virtual, tecnologias que estão a ajudar a mudar os negócios, exemplifica. “Muitos dos negócios que nós considerávamos estáveis vão ser transformados e evoluir para formas completamente diferentes.”
Carapuça acredita que Portugal, tendo em conta o ecossistema de inovação e startups que tem, pode ter uma palavra a dizer na área tecnológica. “Temos boas empresas, bons empresários e um bom sistema de ciência e tecnologia, acredito por isso que Portugal terá as suas cartas para jogar, mas chamo a atenção que a concorrência é grande. Temos de aproveitar este momento, porque é um momento de disrupção e quem for mais rápido tem sempre vantagem”, alerta. E defende: “Todo este ecossistema tem de funcionar em profunda colaboração com empresas sejam elas startup ou empresas mais tradicionais.”
Atraso penaliza
A questão da rapidez é chave, por isso a APDC lamenta a forma como foi conduzido o processo do 5G — Portugal está atrasado e é um dos três países da UE que ainda não tem comercialização de ofertas. E é crítico face ao arrastar do processo, traduzido na lentidão do leilão. “Portugal tem estado desde os anos 80 na linha da frente em matéria de telecomunicações, mas isso não está a acontecer com o 5G. Estamos a ver um leilão extremamente arrastado, e com condições que não são favoráveis a quem investe. Por isso, manifestamos a nossa preocupação enquanto associação empresarial.” O presidente da APDC sublinha ainda que “os operadores têm feito investimentos importantíssimos nas suas redes”. E considera que as condições que existem não são favoráveis à continuação desse investimento, com a dimensão que teve até agora. “Uma má relação entre regulador e regulado [como existe hoje entre a Anacom e os operadores] é sempre negativa, porque se reflete na agilidade e na qualidade com que as coisas se fazem”, avisa.