A exposição ao Benfica “diminuiu”. A renegociação com a Promovalor, de Luís Filipe Vieira, “acrescenta valor”. A negociação com o construtor civil que deu 14 milhões de euros a Ricardo Salgado, José Guilherme, também foi positiva. As classificações são de Eduardo Stock da Cunha, que liderou o Novo Banco desde setembro de 2014, um mês depois da sua constituição, e julho de 2016, relativamente a grandes créditos que estavam no balanço da instituição financeira.
“Há casos de maior sucesso, e há casos de menor sucesso. São dois os casos de insucesso: Sogema e Ongoing. O Novo Banco não conseguiu eventualmente recuperar quase nada”, admitiu Stock da Cunha, na sua audição na comissão de inquérito às perdas do Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, esta terça-feira, dia 4 de maio. Tanto o grupo Sogema, de Bernardo Moniz da Maia, e Ongoing, de Nuno Vasconcellos, chegaram a ter dívidas ao banco acima de 500 milhões de euros; cada um.
O agora presidente executivo do Lloyds Bank Corporate Markets, unidade do grupo inglês Lloyds, defende que esses dois grupos económicos têm dois aspetos em comum: “os créditos foram dados antes de o Novo Banco existir e em circunstâncias em que a política de crédito e de redefinição da política de apetite de risco não tornaria possível que fossem concedidos agora pelo Novo Banco”.
Aumento de exposição a três grupos
Em relação a estes créditos, o Novo Banco, criado em 2014, tentou negociar, e chegou a aumentar a sua exposição aos grupos económicos antes de perceber que não iria recuperar praticamente nada das dívidas.
No caso da Sogema, “estava em negociação a tentativa de receber um reembolso ou garantia adicional, mas depois essa reestruturação não se concretizou”.
“Tenho de explorar todas as tentativas negociais. A não ser que descubra que há alguma coisa que não controlava. Temos sempre de ponderar as alternativas que temos antes de executar. Se existir uma ideia de que podemos recuperar alguma coisa, não rompo as negociações”, disse Stock da Cunha. “Se estiver com um crédito de 100, se souber que se executar vou receber 0, mas se não executar e se daqui a seis meses vou recuperar algo desses 100, por que hei-de interromper as negociações? Se executasse imediatamente perdia tudo”, explicou-se.
Tanto no caso da Ongoing como da Sogema, o Novo Banco aumentou a exposição com crédito às suas entidades operacionais (área de media, onde estava o Diário Económico, da Ongoing; ramo brasileiro, no caso da Sogema) e não às holdings. Só que esses financiamentos não foram suficientes para segurar as empresas operacionais, e os grupos caíram na insolvência - ainda que os deputados tenham dúvidas sobre se os devedores não teriam mesmo capacidade de reembolsar os créditos.
Na Ongoing, há uma questão que foi referida por Stock da Cunha: descobriu-se que a exposição era maior por haver veículos escondidos atrás de fundos, que tinham na "base um devedor", que Stock da Cunha não queria revelar quem era – só mais tarde, depois de advertido pelo presidente da comissão, Fernando Negrão, admitiu tratar-se deste grupo da família Rocha dos Santos. “Num dos níveis mais abaixo a gestão era feita por uma sociedade ligada ao grupo Ongoing”, disse.
Além destes dois grupos, também na Promovalor houve aumento de exposição por parte do Novo Banco após a sua constituição, nestes casos, para “acabar determinados projetos” no Brasil e em Moçambique. E, depois, lembrou, houve negociação de garantias, já feita no mandato que se lhe sucedeu, de António Ramalho, que melhorou a situação - o que é defendido por Nuno Gaioso Ribeiro, que comprou parte das dívidas do grupo ao banco. Luís Filipe Vieira, fundador da empresa de promoção imobiliária, é ouvido na próxima segunda-feira, 10 de maio, no Parlamento.
Por que razão é que estes créditos foram para o Novo Banco e não para o BES? Stock da Cunha disse que, em 2014, “havia um banco péssimo e um banco mau com possibilidade de ser recuperado”. O banco péssimo é o BES, em insolvência; o banco mau era o próprio Novo Banco.
Ainda assim, Stock da Cunha insiste, por várias vezes, na mesma ideia: "Apesar de tudo o que queiramos dizer o Novo Banco sobreviveu até ao dia em que foi vendido".