A pandemia provocou no ano passado a maior queda da economia em quase um século e o nível de endividamento público fixou um novo recorde, mas, paradoxalmente, João Leão conseguiu financiar a dívida com o custo mais baixo de sempre. Há dez anos, Teixeira dos Santos pagava 6% para vender títulos de muito curto prazo, que atualmente registam taxas negativas, e suportava um custo anual de financiamento que era o dobro do atual (ver artigo nesta página). Não é difícil descobrir rapidamente as diferenças no mercado da dívida olhando para as curvas dos juros na crise de então e na crise gerada pela covid-10 (ver gráfico).
A fuga súbita dos investidores e os cofres vazios obrigaram o então ministro de José Sócrates a admitir numa quarta-feira, a 6 de abril, que chegara a hora de pedir o resgate. Dez anos depois, Leão enfrenta uma recuperação económica difícil, mas não tem de lidar com uma crise de financiamento. A pandemia da covid-19 trouxe-lhe uma prenda no meio da desgraça. Algo com que Teixeira dos Santos na época não podia sequer sonhar. “Desta vez, o pragmatismo impôs-se à ideologia”, diz-nos Mark Blyth, professor na Universidade de Brown, nos Estados Unidos. Os três pilares da troika de então, hoje comportam-se de um modo que ninguém acreditaria há dez anos.