Economia

BCP regista quebra de 39% dos lucros em 2020 penalizado pela Polónia e pela covid

Atividade internacional é a que mais contribui para a descida dos resultados líquidos do banco. Novas imparidades superam os 800 milhões

Miguel Maya, CEO do Millennium BCP
José Fernandes

O Banco Comercial Português registou uma descida de 39,4% dos lucros anuais, que totalizaram 183 milhões de euros em 2020, um ano “extremamente complexo, pleno de ambiguidades e incertezas”, como classificou Miguel Maya, o presidente executivo, na conferência de imprensa que acompanhou a divulgação do comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A maior descida dos resultados do BCP, revelados esta quinta-feira, 25 de fevereiro, foi registada na atividade internacional, onde resvalaram 66%. Em 2019, a atividade nacional e as operações no estrangeiro tinham gerado, cada uma, sensivelmente o mesmo lucro, pouco acima dos 140 milhões; este ano, Portugal significou um resultado de 134,5 milhões, menos 7%, enquanto no estrangeiro o banco obteve apenas 48,5 milhões.

O recuo do resultado foi “muito influenciado pelo contexto covid em todas as geografias”, explicou Miguel Maya, mas também pela Polónia, onde o banco tem o Bank Millennium, que foi prejudicado pelos créditos concedidos em francos suíços.

Nos resultados operacionais globais, antes do impacto de imparidades e provisões, a instituição financeira até conseguiu uma melhoria, subindo 1,5%. Isto porque o produto bancário cedeu, mas a um ritmo inferior à descida dos custos operacionais.

Imparidades e provisões disparam

Só que a constituição de novas imparidades e provisões agravou-se: significaram 841,2 milhões de euros no ano passado. Em 2019, esta rubrica – em que o banco coloca dinheiro de lado para eventualidades futuras – estava nos 541,6 milhões de euros. É um aumento de 55%.

Só a “provisão extraordinária constituída pela subsidiária polaca para fazer face ao risco legal associado aos créditos hipotecários concedidos em moeda estrangeira” ascendeu a 151,9 milhões de euros em 2020.

O BCP foi também pressionado pela desvalorização de 72 milhões de euros do valor dos fundos de reestruturação que partilha com outros bancos nacionais. Miguel Maya sublinhou que "há muita pressão para os bancos se desfazerem dos fundos", e citando Saramago, resumiu o seu estado de alma: "não tenhamos pressa, não percamos tempo". "Sempre que há oportunidades tentamos aproveitar para realizar vendas", disse.

Crédito e depósitos aumentam

Os recursos que os clientes colocam no banco cresceram 3,4% para 84,5 mil milhões. Em Portugal, o crescimento dos recursos totais foi de 7,4%, sobretudo devido aos novos depósitos. Na Polónia, o valor dos depósitos deslizou devido ao câmbio.

Já o crédito total do banco que tem a Fosun e a Sonangol como principais acionistas somou 2,6% em termos consolidados para 56,1 mil milhões. Em Portugal, o crédito concedido ascendeu a 38,47 mil milhões, o que corresponde a um aumento de 4,8% face a 2019.

Moratórias em créditos de 8,5 mil milhões

No que diz respeito às moratórias concedidas por conta da covid-19, o banco atribuiu congelamento de prestações a empréstimos de 8,5 mil milhões de euros. Destes, cerca de 4 mil milhões são de crédito às famílias, dos quais 3,36 mil milhões ao abrigo do regime público, que só termina em setembro, e 725 milhões no âmbito da moratória privada (Associação Portuguesa de Bancos), cujo término está previsto para agora, em março. O crédito à habitação corresponde a 90% das moratórias às famílias. As moratórias concedidas às empresas ultrapassaram os 4,4 mil milhões de euros.

Em relação aos créditos sob moratórias, o BCP não se mostra muito preocupado e diz que 85,4% corresponde a crédito de qualidade. "Fala-se muito do risco das moratórias, mas é preciso perceber o que foi a ajuda pública. As moratórias concedidas em Portugal representam 22,5% do PIB, é muito expressivo", disse Maya. Mas, adianta, esse peso, serviu para compensar o que foram os apoios públicos, menores do que nos restantes países europeus.

Nas linhas de crédito covid-19, garantidas pelo Estado, o BCP concedeu quase 2,3 mil milhões de euros, com mais de 30% do montante aprovado pelas sociedades de garantia mútua. Do total do montante concedido com garantia do Estado, 71% foram canalizados para PME, 15% para microempresas e 14% para pequenos negócios, segundo o banco. Por outra perspetiva, das 18.115 operações, 61% dizem respeito a financiamento de microempresas e 37% a PME, e 2% a pequenos negócios.

Rácios de capital intactos

Olhando para alguns indicadores, o rácio de ativos não produtivos (NPE) fixou-se em 5,9% no fim de 2020, quando estes ativos representavam 7,7% da carteira no ano anterior. São 3,3 mil milhões de euros, não cumprindo o objetivo previsto de baixá-los para 3 mil milhões no fim do ano.

A nível de capital, o rácio mais exigente (CET) manteve-se intacto em 12,2%, enquanto o rácio total, mais alargado, também permaneceu em 15,6%, acima dos rácios mínimos exigidos.

O retorno sobre o capital desceu de 5,1%, em 2019, para 3,1%, um ano depois. Muito distante da meta de 10%.

(notícia atualizada com mais informações pelas 19.06)