A Caixa Geral de Depósitos (CGD) registou um lucro consolidado de 492 milhões de euros no ano passado, o que compara com 776 milhões em 2019, quando atingiu o melhor dos resultados anuais desde 2007.
Em 2020, os resultados do banco público, liderado por Paulo Macedo, recuaram devido a um maior provisionamento de crédito por conta da pandemia - algo que está em linha com o que está a ocorrer no sector.
Os números iniciais foram anunciados por Rui Vilar, o presidente da administração, com funções não executivas, que não irá continuar no próximo mandato. “Cumprimos a missão”, disse Rui Vilar em relação ao plano estratégico acordado com a Comissão Europeia em 2016, na conferência de imprensa de apresentação de resultados desta quinta-feira, 11 de fevereiro.
Rui Vilar, que sairá de funções quando for aprovada a nova equipa, na assembleia-geral que deverá acontecer em maio, sublinhou aspetos do que diz que a administração se pode "orgulhar". "Os resultados dos exercícios dos últimos três anos foram positivos e a distribuição de dividendos não estava no plano estratégico e fizemo-lo", acrescentou.
Sobre este tema, Paulo Macedo também falou no mesmo sentido: "Das 54 medidas, foram cumpridas 52. Duas relativas aos bancos do Brasil e de Cabo Verde estão em processo de execução. Não as cumprimos para defender a Caixa. Não as quisemos vender a qualquer preço"; explicou.
Rentabilidade recua
Olhando para a demonstração de resultados, a margem financeira da Caixa recuou 9,4% para mil milhões de euros em 2020, contribuindo para uma quebra homóloga de 13% do produto bancário, que se fixou em 1,6 mil milhões de euros. Já os custos de estrutura recuaram 12% para 835 milhões.
As imparidades para crédito e provisões para garantias bancárias foram reforçadas em 309 milhões de euros ao longo de 2020, para acautelar o impacto da pandemia, respondendo às recomendações do Banco Central Europeu (BCE). Assim, foi a rubrica de imparidades que mais pesou na quebra dos lucros, já que, se em 2019 tinha dado um contributo positivo de 172 milhões, em 2020 contribuiu com 154 milhões negativos.
O ROE, indicador que permite medir a capacidade de uma instituição remunerar o capital investido pelos acionistas, degradou-se em 2020 para 6,1% em termos consolidados e para 5,6% no que diz respeito à atividade em Portugal. No final de 2019, o ROE alcançado era de 8,1%.
A nível de solidez de capital, "os rácios fully implemented CET 1, Tier 1 e Total situaram-se em 18,3%, 19,5% e 20,9%, respetivamente, acima da média dos bancos portugueses e europeus, evidenciando a robusta e adequada posição de capital da CGD".
Dividendos de 85 milhões de euros
O contributo internacional para o resultado consolidado da CGD foi de 93 milhões de euros. Em 2019, tinha sido de 183 milhões de euros.
Apesar da descida no lucro, a Caixa Geral de Depósitos pretende pagar 85 milhões de euros em dividendos ao seu acionista único, o Estado. Contudo, o valor fica aquém do previsto pelo Governo no Orçamento do Estado para 2021, que apontava para cerca de 200 milhões de euros (160 milhões, mais IRC).
O número é o mais alto que pode entregar, tendo em conta os limites definidos pelo BCE - e que o Expresso já tinha dito que desafiavam as pretensões do Governo.
Moratórias de 14% do crédito
O número de moratórias concedidas pela Caixa até 31 de janeiro de 2021 ascendeu a mais de 67 mil contratos, em créditos de um total de 5,99 mil milhões, que representam 13,7% do crédito total.
As moratórias concedidas a empresas chegou a empréstimos de 3,3 mil milhões, em mais de 21 mil contratos. Já o número de moratórias a particulares chegou a 46 mil em créditos de um total de mais de 2,6 mil milhões.
No que diz respeito às linhas covid-19 para empresas foram concedidos 1,6 mil milhões de euros para mais de 11300 operações, aponta ainda a instituição financeira.
Depósitos disparam em Portugal
Já no que se refere ao crédito concedido em Portugal, o crescimento foi marginal, 0,5%, para 43.478 milhões de euros, face aos 43.271 milhões de euros existentes no fecho de 2019. O crédito concedido a particulares continua a ser o que mais pesa.
O rácio de crédito malparado ficou abaixo de 4%, lembrando que inicialmente as metas de Bruxelas eram muito menos exigentes. Agora, vem a maior exigência: “manter este indicador face à situação económica atual”, admitiu o presidente executivo do banco.
Os recursos totais de clientes registaram um forte crescimento, sobretudo graças aos depósitos (aumentaram em 6,7 mil milhões de euros no ano). Em 2020, os recursos ascenderam a 79 mil milhões de euros.
(notícia atualizada às 18.07 pela última vez, com mais informações)