Economia

Mário Centeno: famílias devem ter “atitude de responsabilidade nas decisões de consumo e poupança”

Governador do Banco de Portugal repete que preservação de capital pelos bancos tem de ser seguida por medidas para evitar paragens abruptas

JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa

As famílias devem ser responsáveis na hora de consumir e de poupar e, embora tenham feito um esforço de corte no seu endividamento nos últimos anos, não podem pôr esse esforço em causa. O aviso é do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno.

“Às famílias requer-se uma atitude de responsabilidade nas decisões de consumo e poupança, muitas vezes com recurso ao crédito. No momento em que vivemos, o crédito assume maior importância, mas, pela natureza creditícia, traz maior risco”, afirmou Mário Centeno na audição da comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, convocado no âmbito do plano de atividades do Banco de Portugal, mas onde também foi chamado a pronunciar-se sobre bónus a pagar no Novo Banco.

O governador do Banco de Portugal acredita que todos os agentes económicos têm um papel a cumprir para a estabilidade financeira (“um objetivo global coletivo”, que “requer atuação concertada”). As famílias portuguesas têm feito um esforço para que o endividamento perca peso no rendimento, e estão em linha com a zona euro. “Não deve ser posto em causa”, disse.

Às empresas, “requer-se uma posição robusta”, a quem “compete tomar as melhores decisões de investimentos”. Também aqui Centeno considera que estão “significativamente” melhor desde a anterior crise, mas lembrou que ainda estão em pior posição face às congéneres europeias.

Já o Estado, mais propriamente as administrações públicas, não pode perder o seu estatuto e o líder do supervisor bancário mantém a ideia de que tem de ter “capacidade financeira para substituir-se aos restantes agentes económicos”. É daí que vêm as políticas contracíclicas que tem obrigação de empreender, alertou.

Na sua intervenção, Centeno mencionou ainda o sistema bancário, mostrando que os indicadores mostram uma melhoria (redução do rácio entre crédito e depósitos e melhoria dos fundos próprios, por exemplo).

Evitar paragens abruptas

O governador repetiu algumas das ideias deixadas na semana passada, na apresentação do relatório de estabilidade financeira do Banco de Portugal, dizendo que as moratórias nos créditos são essenciais, mas repetindo que os bancos têm de fazer um esforço de preservação de capital. Só que, disse aos deputados, esse esforço “deverá ser acompanhado por medidas para ultrapassar a crise”.

“Em conjunto com outras instituições, será necessário criar políticas que evitem paragens abruptas. O contributo de todos é essencial”, alertou.

Em setembro, havia empréstimos de 46 mil milhões de euros sob moratórias de crédito (24,4 mil milhões de crédito a famílias, 21,6 mil milhões de crédito a empresas). O fim da moratória legal está previsto para o final de setembro.