Economia

Juros da dívida a 10 anos entram em terreno negativo

Pela primeira vez, na plataforma da Investing.com, a taxa das Obrigações do Tesouro a 10 anos caiu esta terça-feira abaixo de zero. A expetativa de um reforço na quinta-feira do pacote de estímulos do Banco Central Europeu empurra o custo de financiamento da dívida para mínimos

Os juros (yields) dos títulos de dívida pública a 10 anos entraram esta terça-feira à tarde em terreno negativo pela primeira vez na plataforma da Investing.com. Pelas 15h, tinham descido para -0,01%, um mínimo histórico no mercado secundário, onde os investidores transacionam os títulos entre si. É a primeira vez que, num prazo longo, os juros (yields) descem para terreno negativo no mercado secundário.

Tudo indica que, pela primeira vez, os juros da dívida a 10 anos encerrarão uma sessão diária abaixo de zero.

A expetativa de que o Banco Central Europeu (BCE) vai reforçar o pacote de estímulos na reunião da próxima quinta-feira está a alimentar esta descida. Os analistas esperam, no mínimo, que o BCE amplie o valor do envelope do programa de emergência de aquisição de ativos lançado em março (e que já soma €1,35 biliões) e que estenda a sua vigência até ao final do próximo ano (atualmente, vigora até junho).

Conhecido pela sigla em inglês PEPP, o programa já adquiriu cerca de €718 mil milhões em ativos até 4 de dezembro, dos quais 93% em dívida pública. No caso de Portugal, o PEPP já adquiriu €14,8 mil milhões em ativos, até final de novembro, segundo os dados mais recentes divulgados pelo BCE.

Recorde-se que, a 26 de novembro, os juros haviam caído para um mínimo histórico de 0,001%, muito perto de zero, e na plataforma Tradeweb chegaram a registar, por momentos, um valor negativo.

Juros negativos significam que os investidores "pagam" ao Tesouro para deter títulos de dívida. Apesar de receberem um cupão anual (um juro positivo) por parte do Estado, a rentabilidade até à maturidade é inferior ao valor acumulado dos cupões, pois os investidores compram esta dívida a um preço superior ao seu valor nominal.

Portugal junta-se, assim, aos oito países do euro, liderados pela Alemanha e Holanda, que já registavam no mercado secundário taxas negativas a 10 anos.

Em emissões de Obrigações, o Tesouro português já colocou dívida a vencer em 2026 e 2028 pagando taxas negativas, em operações realizadas em julho e outubro.

Jejum de emissões em novembro

Em novembro, o Tesouro não emitiu dívida em nenhum prazo - nem através de Bilhetes do Tesouro (dívida de curto prazo) nem através de Obrigações (dívida de médio e longo prazo).

Depois deste jejum, ainda não foi anunciado novo leilão de dívida. Segundo as regras de emissões das Obrigações, um próximo leilão só poderá ser anunciado para 23 de dezembro. Um potencial leilão de obrigações esta semana, a 9 de dezembro, não foi anunciado pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP).

Portugal colocou, este ano, entre janeiro e outubro, €28,3 mil milhões em dívida obrigacionista. A previsão das necessidades de financiamento para 2020, através da colocação de títulos de médio e longo prazo, apontava para €29,3 mil milhões.

A dívida obrigacionista subiu para €148,3 mil milhões no final de outubro, segundo os dados mais recentes publicados pelo Banco de Portugal. Em relação a dezembro do ano passado, significa um aumento de mais de €17 mil milhões, depois de paga a amortização de mais de €9 mil milhões de uma obrigação que venceu este ano.