Economia

Santander avança com rescisões por mútuo acordo em Portugal

Grupo espanhol tem banco em Portugal com mais de 6 mil profissionais, que cresceu recentemente com aquisições do Popular e do Banif. Santander já tinha assumido que estava a redimensionar a rede de balcões

Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal
Nuno Fox

O Santander Totta está a propor rescisões por mútuo acordo a parte dos seus trabalhadores, segundo denuncia um dos principais sindicatos do sector em comunicado, datado desta quinta-feira, 15 de outubro. A rota de saídas no sector bancário está aí.

“Muitos trabalhadores do Banco Santander Totta estão a ser convocados para uma reunião com os recursos humanos, na qual está também presente um consultor externo. O objetivo é apresentar-lhes uma proposta de rescisão por mútuo acordo, tendo como contrapartida uma indemnização”, aponta a nota do Mais Sindicato (antigo Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas) e do Sindicato dos Bancários do Centro.

O Santander, um dos mais discretos na realização deste tipo de processos, tem um dos maiores quadros de pessoal no sector bancário, depois das integrações do Popular, em 2017, e de parte dos trabalhadores do Banif, dois anos antes. Em junho, o banco contava com 6.119 funcionários, número que representava já uma descida de 150 profissionais no espaço de um ano. No final de 2017, o número superava os 6.700 colaboradores. Só que mesmo antes disso já havia vários bancos na origem, que trazem um histórico diferente aos seus trabalhadores: Crédito Predial Português, Banco Totta & Açores e Banco Santander de Negócios.

"A nossa atuação não sofreu alterações. A política que tem sido seguida e que continuamos a executar é de as saídas serem feitas por acordo entre o banco e cada trabalhador. Não prevemos que durante o corrente ano se altere o número médio de colaboradores que sairão por acordo, reforma e pré-reforma", adianta a instituição financeira, dizendo que mantém benefícios (nomeadamente o crédito à habitação bonificado, segundo sabe o Expresso).

O banco não revelou quantos trabalhadores são visados neste processo, ripostando que está a contratar funcionários (para áreas onde está mais desfalcado numa altura de transformação digital). O corte de custos é um objetivo dos bancos, para alinhar com as receitas esmagadas ditadas por juros em mínimos, bem como há também um fecho de balcões com a migração de muitos clientes para o canal digital.

Neste tipo de processos, por ser por mútuo acordo, os empregadores não podem impor a sua vontade aos trabalhadores, que têm de ser livres para optar pela rescisão ou pela continuação, como relembra o comunicado dos sindicatos.

Em agosto, ao Expresso, o Santander tinha dito que a diminuição dos trabalhadores ao longo do último ano se deveu à “natural” alteração do perfil dos trabalhadores. E assumia que ia haver mais mudanças: “Continuará a haver redimensionamento da rede ajustado às necessidades do banco, que resultarão no encerramento de alguns balcões, como tem vindo a acontecer”.

O Santander Totta apresentou uma quebra de 37% dos lucros para 173 milhões em Portugal, mas, no mundo todo, o grupo espanhol presidido por Ana Botín teve prejuízos históricos de 11 mil milhões de euros.

Nova vaga de rescisões

A reestruturação dos bancos tem sido uma realidade nos últimos anos (saíram mais de 5 mil trabalhadores nos últimos cinco anos) e antecipa-se que volte a fazer parte da normalidade no futuro próximo, por conta do impacto da pandemia, que acabou por acelerar a oferta digital dos bancos, reduzindo a necessidade de agências físicas (onde trabalham a generalidade dos bancários), tendência que o Expresso já tinha noticiado em agosto.

Aliás, o Banco Montepio, foi já noticiado, tem um plano para, nos próximos anos, rescindir com um grupo de até 900 trabalhadores, e tanto a Caixa Geral de Depósitos como o Novo Banco têm planos que previam o emagrecimento do quadro de trabalhadores, até para cumprir as obrigações impostas pela Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia. A CGD tem programas de pré-reformas e revogações de contrato por mútuo acordo em curso e, este verão, o Novo Banco prevê a rescisão com 115 trabalhadores até ao fim do ano, a maior parte por reformas antecipadas, mas também por mútuo acordo.

Aliás, os vários sindicatos do sector têm vindo a tomar várias posições para defender que não pode haver pressões para o sucesso destes processos.