A criação do maior banco em Espanha - e com presença em Portugal - deu um novo passo. As administrações do CaixaBank, detentor do português BPI, e do Bankia, entidade que foi resgatada pelo governo espanhol, aprovaram o projeto de fusão e já escolheram os nomes dos administradores. Fernando Ulrich será um deles. A operação, ainda sujeita a autorizações e que no fim da qual o Estado espanhol será dono de 16% da nova entidade, deverá concluída no primeiro trimestre de 2021.
A operação para a criação do banco espanhol com maior presença no país (mas não quando se olha para a presença internacional) foi já comunicada ao regulador do mercado (CNMV): “Os conselhos de administrações das duas entidades aprovaram a operação, que será consubstanciada na fusão por absorção do Bankia pelo CaixaBank, que tem de ser aprovada em assembleias-gerais”.
O Bankia irá então ser integrado no CaixaBank e será esta última a marca que se vai manter. A sede social continuará em Valência (o CaixaBank tinha sede em Barcelona, mas a crise na Catalunha levou-o à mudança) e assim continuará. No entanto, haverá duas sedes operacionais: Madrid e Barcelona.
Ulrich na administração
Nos documentos que aprovam as fusões não há praticamente menção a Portugal, onde o CaixaBank detém a operação do BPI. As apresentações referem apenas o impacto em Espanha, já que é aí que haverá efetivas mudanças. Também não há referências a Angola nem a Moçambique, onde o grupo está através do banco português (ainda que a tentar desfazer-se da participação no Banco de Fomento Angola).
Ainda assim, Fernando Ulrich, que subiu a presidente da administração do BPI após a compra do CaixaBank (deixando o leme executivo), vai integrar o conselho de administração do novo CaixaBank. Será um dos seus 15 elementos, surgindo como “outro administrador externo”. É o representante estrangeiro.
Gonzalo Gortázar mantém-se como presidente executivo do CaixaBank, ficando responsável pelo gestão dia-a-dia. O atual líder do Bankia, José Ignacio Goirilzarri será o presidente do conselho de administração.
O futuro CaixaBank terá ativos combinados de 664 mil milhões de euros. Para efeitos de comparação, o maior banco português, a Caixa Geral de Depósitos, tem ativos de cerca de 90 mil milhões de euros. Torna-se assim a maior entidade bancária no mercado doméstico. Esta nova instituição financeira terá cerca de um quarto de quota de mercado tanto nos créditos como nos depósitos. A estimativa apresentada aponta para que cerca de 4,1% do crédito esteja malparado.
CaixaBank com mais força
O “antigo” CaixaBank, sendo maior que o Bankia, terá mais força na fusão. Os acionistas do grupo catalão terão 74% da nova entidade, enquanto 26% ficarão nas mãos dos acionistas do Bankia.
Em resultado deste rácio, a Fundação La Caixa ficará com 30% da nova entidade CaixaBank, enquanto o fundo de reestruturação bancária, o FROB, através do qual o Estado espanhol resgatou o Bankia, ficará com 16% do novo banco. A restante participação de 54% estará dispersa por investidos, a maior parte institucionais, o restante retalho.
Governo espanhol tem de aprovar...
O fecho da operação, que está a ser assessorada pelo Morgan Stanley e pela Rothschild, é esperado para o final de março. Até lá, ainda se terão de realizar assembleias-gerais dos dois bancos e têm de chegar autorizações regulatórias.
Em causa está a luz verde do Ministério dos Assuntos Económicos e da Transformação Digital, o regulador da concorrência e ainda os supervisores da banca, seguros e mercados de capitais. O Governo já disse que vê a operação com bons olhos.
…fusão que poupa mais do dobro do que gera
Uma vez concluída a operação, a entidade resultante da fusão deverá conseguir obter receitas adicionais (advindas de sinergias da combinação dos negócios) de 290 milhões de euros por ano durante cinco anos.
Já no campo das poupanças, as sinergias obtidas (neste caso, com cortes de custos e normais reestruturações, como potenciais fecho de balcões e rescisões com trabalhadores) de 770 milhões de euros anuais (até 2023), mais do dobro das sinergias nas receitas.