Economia

Covid-19. Pandemia criou 92 mil novos desempregados. 46% estão na região de Lisboa

Desemprego registado aumentou em 84% dos concelhos do país desde fevereiro, último mês da era pré-covid. Em julho, o número de desempregados inscritos nos centros de emprego nacionais voltou a aumentar. São já mais de 407 mil aqueles a quem a pandemia retirou o posto de trabalho. Só na região de Lisboa e Vale do Tejo, o número de desempregados aumentou 46,3% desde fevereiro. Eis o retato do "desemprego covid", concelho-a-concelho.

Marcos Borga

Os números espelham uma realidade que ninguém previa e que se antecipa de lenta recuperação. Em cinco meses Portugal somou 91.740 novos desempregados à estatística de inscritos nos centros de emprego nacionais. Entre fevereiro, último mês da era pré-pandemia, e julho deste ano o desemprego aumentou em 84% dos concelhos do país. Há ligeiras melhorias face a junho, altura em que o Expresso divulgou pela primeira vez o retrato do impacto da pandemia na evolução do desemprego registado, nas várias regiões do país. Nessa altura, 86% dos concelhos do continente registavam um agravamento do desemprego face a fevereiro. Mas pese embora esta ligeira recuperação, em 32 concelhos o número de pessoas que ficaram sem trabalho aumentou mais de 50%.

Portugal tinha em julho desde ano 407.302 desempregados registados nos centros de emprego nacionais. Segundo os indicadores divulgados na última semana pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), o número representa um aumento de 637 indivíduos (0,2%) em cadeia, ou seja, face a junho deste ano, mas se considerado o mês homólogo (julho de 2019), altura em que o país atravessava um nível de desemprego próximo do estrutural, são mais 110.012 desempregados inscritos nos centros de emprego, 37% mais.

Se considerarmos como referência o mês de fevereiro, ou seja, a situação vivida no país pré-pandemia, havia no final de junho mais 91.740 desempregados registados nos centros de emprego. Para este aumento contribuiram de forma transversal todas as regiões do país, ainda que em diferentes escalas.

Os vários concelhos que integram a região de Lisboa e Vale do Tejo registaram um aumento de 46,3% no número de desempregados inscritos. Em Julho esta região totalizava 135.240 desempregados registados, um aumento de 42.780 indivíduos face a fevereiro deste ano. As regiões Norte, Centro e Algarve seguem-se na lista com um agravamento do número de desempregados de 24,4%, 22,3% e 19,2%, respetivamente.

O Alentejo tem sido, à luz dos números, a região menos fustigada pelo aumento de desempregados inscritos, com 19,1%, mais 2.889 do que em fevereiro. Recorde-se que o desemprego registado é apenas um dos indicadores usados para medir a evolução do desemprego e pode pecar por defeito já que nem todos os desempregados são obrigados a formalizar inscrição nos centros de emprego.

O concelho do Cadaval, na região de Lisboa e Vale do Tejo, é o caso mais dramático. O desemprego neste concelho mais do que duplicou face a fevereiro e, contrariando a tendência seguida por grande parte dos concelhos do país, a situação agravou-se também face aos indicadores que o IEFP tinha disponibilizado em junho. Ou seja, apesar apesar da retoma da atividade de muitas empresas, no Cadaval o número de desempregados inscritos nos centros de emprego continuou a aumentar. O Concelho totaliza 527 desempregados, mais 22 do que em junho e mais 290 do que em fevereiro.

Ponte de Lima está na mesma posição. Ainda que ao contrário do Cadaval tenha registado uma ligeira diminuição no número de desempregados inscritos no centro de emprego local, menos 15 novos inscritos face a junho, continua a ter mais do dobro dos desempregados que somava antes da pandemia, 1119 desempregados registados contra os 553 que tinha em fevereiro.

As mulheres continuam a ser as mais afetadas pelo novo desemprego, gerado pela pandemia. Em 90% dos concelhos do país o desemprego registado é maioritariamente feminino. Há 16 concelhos onde o número de mulheres em situação de desemprego é mais do dobro do registado entre os homens e nove concelhos a desigualdade é superior a 80%.

Além das mulheres, em Portugal, o desemprego da era Covid atinge maioritariamente os profissionais acima dos 35 anos, com qualificação ao nível do ensino secundário ou abaixo disso. Do total de desempregados registados que se encontravam registados nos centros de emprego do continente em Julho, 43% (163.357) tinham entre 35 e 54 anos e 25% tinham 55 anos ou mais. 32% dos inscritos como desempregados possuiam qualificações ao nível do ensino secundário e 21% do terceiro ciclo. Só 13,3% dos desempregados registados no último mês tinha qualificação superior.

O fim de um contrato de trabalho não permanente continua a ser o principal motivo das novas inscrições registadas nos centros de emprego. De um total de 44.281 novos inscritos em julho, 54% enquadravam-se nesta situação.

Mas nem tudo são más notícias. Há 45 concelhos do país (mais cinco do que os registados em junho) onde o desemprego registado diminuiu face ao início da pandemia. Odemira destaca-se neste grupo com uma redução de 208 desempregados inscritos (17,9%) face a fevereiro. Mas neste grupo estão também o cencelho de Terras de Bouro, com uma redução de 27,9% no número de desempregados registados (-95 indivíduos), Mira (-37) ou Castanheira de Pêra (-10). Boas notícias que se diluem num cenário de incerteza para milhares de desempregados.