Quanto vale um quilo de sardinha? Na prática, vale aquilo que o mercado pagar por ele. No entanto, a partir desta segunda-feira – dia do regresso oficial à captura da sardinha – alguns operadores do sector temem alguma depreciação.
Não porque haja menos sardinha, pois a quota de pesca ibérica até aumentou em em 1.300 toneladas em relação a 2019, mas porque o pós-confinamento pode retrair a procura e, por essa via, originar uma quebra nos preços.
Ainda assim, e devido à expectativa de poder voltar a comer uma boa sardinhada ao fim de tantos meses, para os próximos dias até é de esperar alguma alta nos preços, mas nenhum agente do sector arrisca valores.
Agostinho Mata, líder da Propeixe, Cooperativa de Produtores de Peixe do Norte há cerca de duas semanas alertou para que “o aumento de captura e uma menor procura pode levar a uma baixa do preço. Para a evitar, poderá ser necessário estipular um limite diário de captura, um preço mínimo de venda em lota e aumentar a capacidade de congelação”.
Há 6.300 toneladas de sardinha para comer
A época oficial da sardinha vai desde esta segunda-feira até às 24 horas do dia 31 e julho e o limite de descargas de sardinha (sardina pilchardus, para sermos mais precisos) capturada com a arte de cerco pela frota portuguesa é de 6.300 toneladas.
Mas, para além do constrangimento social que representa o pós-confinamento - na sequência da quarentena imposta pela pandemia Covid-19, o que, só por si, já vai levar menos pessoas às bancas dos mercados -, o que assusta seriamente os profissionais do sector é o cancelamento das festas populares.
Menos gente nas ruas, nos restaurantes e sem marchas tudo se complica
É que, as vendas de sardinha na altura dos santos populares são importantes, não só pela quantidade mas também pelo preço que é pago. No entanto, como e tudo isto não bastasse, sob o sector da pesca paira ainda outra nuvem negra: o medo da ida ao restaurante que, segundo uma fonte ligada às pescas, é de onde costuma vir uma parte significativa da compra de peixe durante todo o verão.
Com menos gente nas ruas — sem marchas populares — e nos restaurantes, a esperança dos pescadores vai para a indústria conserveira, que poderá ter um papel importante para ajudar a revitalizar o sector e compensar eventuais perdas. Mas ainda nada está garantido.
Vendas de peixe caem 60% desde início do confinamento
De notar que, por lei, está interdita a captura, manutenção a bordo, descarga e venda de sardinha em todos os dias de feriado nacional.
Desde o inicio do confinamento por causa da Covid-19 as vendas de peixe fresco caíram 60% face ao mesmo período de 2019, enquanto as de peixe congelado cederam 30%, de acordo com os dados divulgados pela Associação da Indústria Alimentar pelo Frio.