Economia

Farmácias. Acompanhamento de doentes crónicos e dispensa de medicamentos para o cancro, SIDA e esclerose múltipla estão em risco

Os doentes podem ficar sem acesso a vários serviços farmacêuticos caso o Estado não altere o modelo de remuneração das farmácias. Este é um dos alertas do sector no âmbito da discussão no Parlamento, na próxima quarta-feira, da petição “Salvar as Farmácias – Cumprir o SNS”, que reuniu 120 mil assinaturas

As farmácias vão parar durante 23 minutos na próxima quarta-feira, às 15h, numa ação que pretende chamar a atenção dos portugueses para o debate parlamentar da petição "Salvar as Farmácias – Cumprir o SNS", numa iniciativa simbólica que tem a mesma duração definida para a discussão que vai ter lugar na Assembleia da República (AR).

O sector alerta que os doentes podem vir a ficar sem acesso a serviços farmacêuticos críticos, entre os quais o acompanhamento de doentes crónicos, a dispensa de medicamentos hospitalares para doenças como o cancro, SIDA e esclerose múltipla ou a vacinação contra a gripe. Estes atos são prestados de forma gratuita pelas farmácias, faz notar a Associação Nacional das Farmácias (ANF), em comunicado de imprensa divulgado este domingo.

A partir desta segunda-feira, e durante três dias, a linha telefónica 1400, de apoio às farmácias, está a comunicar aos cidadãos sobre os serviços que correm o risco de serem suspensos por não serem comparticipados pelo Estado. Trata-se de um apoio telefónico cujas chamadas são gratuitas e que permite fazer encomendas de medicamentos.

“Com a paragem simbólica de 23 minutos, as farmácias alertam a sociedade portuguesa e o poder político sobre a urgência de medidas concretas para salvaguardar os serviços das farmácias aos portugueses, informa a ANF.

E lembra que, “na última década, a rede de farmácias tem sido alvo de uma série de medidas de austeridade que conduziram ao colapso da sua sustentabilidade económica”.

Neste momento, existem 702 farmácias alvo de processos de penhora e de insolvência, o que corresponde a 24% da rede, informa a ANF, que tem como associadas cerca de 95% dos 2900 estabelecimentos espalhados pelo país.

“O Estado tem iniciado várias experiências de serviços farmacêuticos críticos para a Saúde dos portugueses, mas esses processos arrastam-se no tempo, sem decisão ou qualquer investimento público”, lamenta a associação do sector e dá o exemplo de que há 250 doentes com VIH-Sida seguidos há quatro anos nas farmácias comunitárias sem que o Estado assuma qualquer responsabilidade por esse serviço.

A ANF faz notar que os farmacêuticos estão a ficar sem saída já que a sobrevivência das farmácias inviabiliza continuar a prestar serviços gratuitamente, sem qualquer pagamento por parte do Estado.

As 160 farmácias filiadas na Associação de Farmácias de Portugal também vão suspender a sua atividade na próxima quarta-feira, entre as 15h e as 15h23, juntando-se às 2750 da ANF, de acordo com uma nota de imprensa difundida hoje, segunda-feira.

Neste comunivado a ANF adianta ainda que a plataforma de dispensa de receitas médicas eletrónicas será suspensa durante os 23 minutos reservados pela AR para debater a petição.

(Notícia atualizada às 16h00 com a adesão das farmácias dos Açores e a indisponibilidade da plataforma de receitas médicas eletrónicas)