Economia

Lagarde responde aos juízes alemães: BCE é “indiferente” ao ultimato

A presidente do Banco Central Europeu disse num painel da Bloomberg News na quinta-feira que o banco continuará a “fazer o que for necessário” para defender o euro. Mas fontes de Frankfurt sublinharam que a francesa procurará “uma solução diplomática” face ao ultimato do Constitucional alemão

Ralph Orlowski/Reuters

"Continuaremos a fazer o que for necessário... indiferentes [à decisão do Tribunal Constitucional alemão]", disse Christine Lagarde num painel da Bloomberg News na quinta-feira. Esta tomada de posição da presidente do BCE acentua a resposta que foi dada, logo na terça-feira, ao ultimato dos juízes do Tribunal Constitucional alemão, que exigiram que o banco da moeda única esclareça, no prazo de três meses, se cumpre com o princípio da proporcionalidade na execução do programa de compra de dívida pública lançado por Mario Draghi, em 2015, e reativado em novembro do ano passado.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE) reforçou, depois, que o banco da moeda única só responde perante o Parlamento europeu e só está sob a jurisdição legal do Tribunal de Justiça da União Europeia.

A francesa acrescentou que o BCE toma sempre em consideração a proporcionalidade nas suas tomadas de decisão, mas que "a calibração da proporcionalidade" terá sempre em conta "o que as circunstâncias ditarem".

Solução diplomática

Fontes do BCE adiantaram, entretanto, à Agence France Presse, que Lagarde vai procurar uma "solução diplomática" no conflito com os juízes alemães. "Uma solução diplomática que proteja a independência do BCE, ainda que satisfazendo o pedido dos juízes", adiantou a fonte, acrescentando que a presidente do banco "não quer escalar o conflito".

A Bloomberg e a Reuters deram conta que o Conselho do BCE - que reúne a comissão executiva liderada por Lagarde e os 19 governadores dos bancos centrais nacionais - está dividido sobre se se deve dar uma reposta formal ou não ao ultimato do Tribunal de Karlsruhe. Jens Weidmann, o presidente do Bundesbank, o banco central alemão, declarou, em comunicado no dia da decisão, que fará tudo para que o BCE dê uma resposta. Os analistas do banco alemão Commerzbank admitem, numa nota desta sexta-feira aos investidores, que até ao verão alguma solução de compromisso acabará por ser tomada, evitando que "os dois comboios [BCE e juízes do constitucional alemão] que estão em rota de colisão" acabem por chocar.

Um choque no verão entre o BCE e o Tribunal alemão, que determina que o Bundesbank está sujeito à jurisdição constitucional germânica, seria o fim da política monetária do euro, com duas velocidades, a comum por parte do BCE e a do banco central alemão, dizem os analistas do Commerzbank. O que equivaleria "a uma saída alemã parcial do euro".

O influente analista alemão Wolfgang Munchau, colunista do Financial Times, já considerou este confronto como o primeiro sinal de um "Brexit à alemã".