Depois de ter sido notificada pela Transport of London da não renovação da sua licença para atuar em Londres - um dos seus três mercados mais lucrativos - por motivos de segurança, a plataforma de transporte descaracterizado de passageiros Uber anunciou o reforço do seus sistema de verificação e validação de identidade dos motoristas. O sistema que já se encontrava em teste no Reino Unido, chega agora a Portugal.
A empresa anunciou, em comunicado, o lançamento do seu sistema de Verificação de Identidade em Tempo Real, que já pode ser utilizado em Portugal. "A nova funcionalidade irá solicitar que os motoristas e parceiros de entrega tirem uma fotografia em modo 'selfie' antes de ficarem online. A imagem será imediatamente cruzada com a fotografia de perfil do motorista ou parceiro de entrega e assim garantimos que é a pessoa certta que está ao volante ou a fazer a entrega", explica a empresa.
Recorde-se que na base da não renovação da licença da plataforma de transportes para atuar em Londres estiveram precisamente casos de utilização indevida da plataforma por motoristas não autorizados ou já suspensos da plataforma por conduta indevida, ocorridos entre 2018 e o ínicio de 2019. Ao todo, a falha no sistema de segurança da plataforma terá permitido que fossem realizadas mais de 14 mil viagens fraudulentas a partir da plataforma, desconhecendo-se se o problema terá ficado circunscrito à cidade de Londres ou se casos semelhantes terão sido identificados noutras cidades e países.
Medidas de segurança polémicas
Como o Expresso já havia avançado, a polémica levou a empresa a anunciar a intenção de implementar novas medidas de segurança que poderiam passar pelo reconhecimento facial, utilização de dados biométricos, recolha de imagens do motorista e do utilizador durante a viagem e até a gravação áudio do percurso. Medidas que, alertava na altura o advogado Ricardo Henriques, especialista Regulação e União Europeia, Propriedade Intelectual e Tecnologias de Informação, levantam “sérias questões no campo da privacidade”. O advogado alertou para potenciais entraves na aplicação destes sistemas não só em Portugal mas na generalidade dos países europeus, onde o regime de proteção de dados “é bastante restritivo no que respeita à utilização desde tipo de dados”.
Problemas que o sistema agora anunciado parece não colocar. "A nova funcionalidade de segurança tem como objetivo evitar fraude de identidade e proteger as contas de motoristas e parceiros de entrega", explica a Uber acrescentando que "este recurso incentiva os utilizadores a estarem mais atentos e a reportarem quaisquer preocupações, de modo a apoiarem com informação quando as equipas de suporte especializado recebem relatórios de possíveis incompatibilidades de fotos".
A empresa reforça que "a segurança dos utilizadores, motoristas, parceiros de entrega e do público em geral é uma das principais prioridades da Uber" e reforça que o sistema de verificação de identidade em tempo real é um passo em frente nesta direção e é "uma ferramenta essencial para reduzir fraude de identidade, partilha de contas e, acima de tudo, para manter a plataforma segura para todos os utilizadores, garantindo que motoristas e parceiros de entrega são quem nos disseram que eram".
Em Portugal é o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) o organismo responsável por regular a atividade de Transporte de Passageiros em Viaturas Ligeiras Descaracterizados (TVDE), onde se incluem empresas como a Uber e similares. Desde 1 de novembro de 2018, altura em que a designa "Lei Uber" entrou em vigor, o IMT licenciou 20.024 motoristas. Em declarações ao Expresso, fonte do IMT garante que “ainda não se procedeu à apreensão de qualquer certificado de motorista”, mas reconheceu a existência de “12 autos instaurados a motoristas” sem, contudo, divulgar a natureza destes autos.