O BPI perdeu 595 milhões de euros em depósitos de grandes investidores, como seguradoras, fundos de investimento ou outras instituições financeiras. Essa perda foi uma escolha do banco, depois de impor uma comissão para que esses clientes aí tivessem o dinheiro depositado. Aliás, a instituição financeira vai subir ainda mais esta comissão, para ver se há uma maior fuga dos depósitos de maior dimensão. O BPI pretende mesmo alargá-la a empresas públicas e multinacionais - como o restante setor bancário.
A saída dos institucionais
No final de setembro, o banco detido pelo espanhol CaixaBank apresentava 350 milhões de euros em depósitos de investidores institucionais e financeiros (segmento que exclui os particulares), um número que representa uma forte quebra de 63% em relação aos 945 milhões que estes clientes tinham depositado no BPI no fim de 2018.
Esta evolução deve-se à “política ativa do BPI de redução destes depósitos com o objectivo de otimizar os rácios de liquidez”, segundo o comunicado de resultados dos primeiros nove meses do ano, em que o lucro do banco cedeu 50% para 254 milhões.
Comissão vai subir...
Na conferência de imprensa em que explicou os resultados, Pablo Forero especificou que está em causa a comissão de manutenção de 0,3% a estes depósitos, o que quer dizer que quem põe dinheiro no banco tem de pagar para isso. Esta comissão existe desde o início de junho e é desde aí que se tem sentido uma maior saída de depósitos. O CEO do BPI anunciou, na conferência, que iria aumentar esta comissão para 0,5% no final deste ano.
Esta comissão é a resposta encontrada pelo banco para se livrar do peso destes depósitos de maior dimensão numa altura em que não pode cobrar por este dinheiro – e o banco tem de pagar quando coloca o seu dinheiro em Frankfurt, no Banco Central Europeu.
Este é, mesmo, um comportamento que está a ser repetido por outros bancos portugueses. Isto porque a imposição de taxas de juro negativas sobre os depósitos é proibida por lei no país (e não haverá alterações legislativas neste sentido), pelo que os bancos olharam para a possibilidade de aplicarem comissões quando os depósitos são de institucionais. Mas os bancos – e o BPI admitiu-o directamente – não querem ficar por aqui.
... e alargar-se?
Como já noticiado pelo Expresso, há conversas entre o sector e o Banco de Portugal para que estas comissões aplicadas aos clientes institucionais possam ser estendidas. O presidente do BPI especifica qual o público-alvo.
“Não temos nenhuma intenção de cobrar aos particulares e pequenas empresas, mas sim cobrar uma comissão pelos depósitos a grandes empresas multinacionais e institucionais (do Estado)”, assumiu Pablo Forero.
Não há ainda prazo para uma decisão: “Sabemos que o Banco de Portugal está a olhar para esta decisão muito seriamente. Não sabemos quando vão decidir. É uma decisão que afeta todos os bancos”.
O presidente executivo do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida, assumiu na passada semana que via no médio prazo juros negativos aplicados a grandes empresas, devido à diferença de tratamento legal aplicada aos bancos portugueses e aos restantes bancos europeus.