Economia

Banca quer aplicar juros negativos nos grandes depósitos mas Banco de Portugal afasta cenário

Os bancos portugueses querem poder aplicar taxas de juros negativos aos depósitos de grandes empresas, institucionais e institucionais financeiros. Já se reuniram com Banco de Portugal, mas o supervisor afasta cenário

Miguel Maya (BCP), António Ramalho (Novo Banco), Pablo Forero (BPI) e Paulo Macedo (CGD)
José Fernandes

O tema das taxas de juros negativas até 2024, no âmbito da política monetária traçada pelo Banco Central Europeu, continua a agitar as águas. Os bancos querem poder fazer o mesmo que outros bancos em outros países, como por exemplo a vizinha Espanha, já faz: aplicar juros negativos a grandes empresas, multinacionais e institucionais financeiros, o que na prática equivale à cobrança de uma custo pelo depósito.

Questionado pelo Expresso sobre se este cenário está em cima da mesa, o Banco de Portugal afirmou ao Expresso que "o quadro normativo em vigor proíbe que a taxa de remuneração dos depósitos seja negativa". Trata-se do aviso 6/2009 que diz expressamente que "qualquer que seja o modo de determinação da taxa de remuneração de um depósito, esta não pode, em quaisquer circunstâncias, ser negativa".

Ainda assim e como já noticiou o Expresso, o supervisor liderado por Carlos Costa "continuará a acompanhar este tema e as suas implicações para o sistema financeiro". Adiantando, contudo também estar empenhado "em assegurar o pleno cumprimento do referido quadro normativo".

Para os bancos, e segundo a associação que os representa, liderada por Faria de Oliveira, o assunto é relevante já que em outros países europeus, "não existem restrições à aplicação de taxas de juro negativas nos depósitos em operações de depósitos de sociedades não financeiras", e que as mesmas " apresentam já valores negativos".

Os banqueiros, contudo, não desistem. Ainda esta semana, durante uma conferência organizada pelo Negócios, Miguel Maya (BCP), António Ramalho (Novo Banco) e Paulo Macedo (CGD) voltaram a insistir no tema.

O tema de cobrar aos grandes clientes pelos depósitos de grande dimensão não é nova, decorre do facto do BCE cobrar juros negativos pelos depósitos que os bancos lá colocam, uma política que foi recentemente prolongada, o que levou Miguel Maya a dizer não fazer sentido ter "centenas de milhões" de euros depositados no banco por grandes clientes institucionais estrangeiros. Já que nos seus países de origem os bancos podem cobrar-lhes taxas de juro negativas. Declarações partilhadas pelos presidentes da CGD e Novo Banco.

O que está a acontecer é que as grandes empresas e multinacionais estão a colocar os seus depósitos nos bancos em Portugal porque nos seus países podem cobrar-lhes taxas de juros negativas, e em Portugal isso como sublinhou o Banco de Portugal é proibido.

Existe, contudo uma ressalva neste querer, e Miguel Maya sublinhou-a: "não passa pela cabeça do BCP cobrar pelos depósitos de clientes particulares e pequenas empresas". O mesmo é partilhado pelos outros banqueiros.