Economia

Farfetch multiplica prejuízos por cinco

Plataforma luso-britânica de artigos de moda de luxo apresentou esta quinta-feira prejuízos de 89 milhões de dólares, anunciou a saída do diretor de operações e ainda a aquisição da empresa New Guards por 675 milhões de dólares

José Neves é fundador e presidente executivo da Farfetch
José Carlos Carvalho

A Farfetch aumentou receitas e prejuízos no segundo trimestre do ano, acima do valor que os analistas previam.

A plataforma luso-britânica de artigos de moda de luxo registou prejuízos de 89 milhões de dólares (cerca de 79 milhões de euros), cinco vezes mais do que as perdas do ano anterior pela mesma altura (17 milhões de dólares), mas já em recuperação face ao primeiro trimestre, altura em que os prejuízos ascenderam a 109 milhões de dólares (cerca de 97 milhões de euros).

Entre janeiro e junho, os prejuízos por ação foram 15 centavos (13 cêntimos), mais oito centavos do que os analistas previam. Apesar das perdas, as receitas aumentaram 42% para 209 milhões de dólares (187 milhões de euros) em termos homólogos, acima das estimativas dos analistas, que apontavam para 199,7 milhões de dólares (178 milhões de euros). Em 2018 pela mesma altura os prejuízos cifraram-se em 17 milhões de dólares (15 milhões de euros).

O fundador e presidente executivo da Farfetch, José Neves, realça que o GMV - Gross Merchandise Value (valor das transações realizadas) de 484 milhões de dólares (253 milhões de euros), mais 44% do que no trimestre anterior. “A nossa proposta ímpar para os consumidores de luxo levou ao crescimento não só além das nossas expetativas, mas também ao crescimento no sector dos bens de luxo online, à medida que fomos ganhando quota de mercado.”

Mas os investidores não parecem partilhar a mesma visão. No mercado “after hours” de Wall Street, a Farfetch viu as suas ações caírem mais de 40% para 10,9 dólares (9,7 euros), afastando-se ainda mais do valor a que foram vendidas no IPO em setembro (20 dólares cada).

Recorde-se que, no mês passado, o grupo editorial Condé Nast - que era um dos primeiros investidores da Farfetch - vendeu a participação de 234 milhões de libras (cerca de 261 milhões de euros) que detinha no capital social da Farfetch. A dona da “Vogue”, “Vanity Fair” e “The New Yorker” está preocupado com a gestão da empresa luso-britânica, principalmente com o volume de dinheiro que esta está a gastar em marketing.

Também na quinta-feira o unicórnio (empresa avaliada em mais de mil milhões de dólares) luso-britânico anunciou a saída do diretor de operações Andrew Robb. Segundo a Farfetch, foi o próprio que decidiu deixar a empresa após nove anos.

Mais uma aquisição para a Farfetch

No mesmo dia em que apresentou os resultados trimestrais, a Farfetch anunciou também a aquisição do grupo italiano New Guards, uma plataforma de comércio online com marcas como a Off-White, Palm Angels, Marcelo Burlon County of Milan, Heron Preston, Alanui, Unravel Project e Kirin Peggy Gou.

O negócio, que ficou fechado por 675 milhões de dólares ou 602 milhões de euros (financiado em igual medida com dinheiro e ações da empresa), vai permitir à empresa liderada por José Neves reforçar a alavancar a base global de consumidores, parcerias com as boutiques e a base de dados.

A compra da New Guards vem depois da aquisição, em dezembro, da Stadium Goods e, em fevereiro, da Topline por 300 milhões dólares (268 milhões de euros) no total. De acordo com a “Bloomberg”, os analistas olham para estas aquisições como necessárias para manter o crescimento do GMV da empresa e acreditam que estas irão produzir frutos.

A aquisição da plataforma Toplife à gigante de comércio online JD.com, em particular, demonstra a aposta da empresa na expansão no mercado chinês - uma grande oportunidade de negócio, uma vez que os consumidores chineses representarão 40% das despesas mundiais com bens de luxo em 2025, como mostra um relatório da consultora McKinsey.

Em junho, a Farfetch abriu a sua loja na JD.com, um dos seus maiores acionistas.