Os motoristas dizem que a Associação Nacional dos Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) os enganou. Os patrões alegam que foi o sindicato que rompeu com as negociações. Será possível um entendimento?
Os motoristas foram enganados. Houve uma primeira proposta nossa de 1200 euros de salário-base. Baixámos para os 900 euros e desconvocámos a greve de maio. A ANTRAM vem agora dizer que não aceitam os 900 euros e que só pagam 700 euros.
Há um divórcio total?
Os motoristas não vão ceder nisto. Mas tenho na minha cabeça formas de se encontrar um consenso entre as partes para resolver o este problema.
Que soluções são essas?
Por exemplo, em vez de fazermos um contrato coletivo de trabalho só de dois anos, faça-se um de seis em que sejam estipulados a priori aumentos de 50 euros de ano para ano a partir de 2021. Não seria nada por aí além. Assim, passaríamos dos 700 euros de salário-base em 2020 para os 1000 em 2025. Pelo meio, em vez dos 900 euros já propostos por nós para 2022, seria um valor mais baixo: 850 euros. Ficavam todos a ganhar: os motoristas iriam ganhar mais em 2025 e a ANTRAM não ia ficar refém dos pedidos de aumentos de motoristas em cada final de contrato de curta duração.
Os portugueses estão uma vez mais reféns dos motoristas?
É um pouco excessivo considerar que estejam reféns. Uma greve tem sempre impacto na economia. Tal como a dos enfermeiros, dos médicos ou dos magistrados que também afeta a população. O país entrou em caos em abril mas não por culpa dos sindicatos. O Governo estipulou serviços mínimos de 40% , mas só para Lisboa e Porto, dizendo que os portugueses de primeira eram só os dessas cidades. No resto do país, as pessoas consideraram-se excluídas e o combustível acabou.
O Governo vai colocar os militares e polícias a substituírem os motoristas. O que acha?
Nunca se viu na história da democracia uma greve, que é um direito constitucional, ser ameaçada com as forças armadas. Este braço de ferro pode implicar a perda dos direitos que foram conquistados no 25 de Abril. Se os motoristas perderem esta batalha, não são só eles que a vão perder. É todo o mundo laboral. A mensagem que o Governo está a transmitir é que está do lado do poder económico.
Os motoristas podem reagir mal ao verem militares e polícias a conduzir camiões?
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