O Banco Comercial Português é conhecido pelo patrocínio ao ténis, com o Estoril Open a ostentar o nome da instituição financeira, mas foi outro o desporto, mais particularmente o golfe, que esteve na sua carteira de investimentos durante um ano. O banco liderado por Miguel Maya foi o dono da holding de André Jordan que detém o campo de golfe de Belas.
O banco, que tem os chineses da Fosun e os angolanos da Sonangol como principais acionistas, adquiriu 51% do Grupo Planfipsa, de André Jordan (o rosto da Quinta do Lago), no primeiro trimestre do ano passado. Esta sociedade, de que o BCP era credor, é dona da Planbelas, imobiliária que promove e gere o empreendimento Belas Clube de Campo, que junta o imobiliário, lifestyle e golfe.
Não há qualquer explicação oficial para que o BCP tenha comprado a participação maioritária naquele universo. “O banco não comenta”, foi a resposta dada pela instituição financeira às perguntas feitas, por duas vezes, pelo Expresso. Quando fez a aquisição de 51%, a Wilmslow Holdings Limited, com 40,16%, e a Chantal Enterprises Limited, com 8,82%, ambas sediadas em Malta, eram as restantes acionistas. São imputadas a Jordan, o empresário ligado a Vilamoura e à Quinta do Lago, e que era o antigo dono.
A compra de 51% pelo BCP aconteceu em março de 2018, depois de a Planfipsa ter feito um aumento de capital de €5,22 milhões de euros em “espécie”, ou seja, sem mobilização de novos fundos. Que “espécie”? É uma incógnita. Mas aconteceu numa sociedade que estava numa situação patrimonial deficitária. A Planfipsa terminara 2017 com capital próprio negativo de €87 milhões, resultante de um ativo de €8 milhões face a um passivo de €95 milhões. Deste passivo, os financiamentos obtidos ascendiam a €75 milhões. Também a Planbelas registara, em 2017, um capital próprio negativo de €19 milhões.
Em março de 2018, com a compra, entraram também dois nomes do BCP para a administração da sociedade gestora de participações sociais para completar o mandato iniciado em 2015 e que se estendia até ao final desse ano. O banco tornou-se, assim, a casa-mãe da empresa de Jordan. A Planfipsa passou a ser “subsidiária”, como a classificava contabilisticamente o BCP. Mas a entrada da Planfipsa no balanço do banco ocorreu já com um sinal de saída. Ainda 2018 não tinha terminado e já esta operação tinha sido considerada em “descontinuação”. Ou seja, era para vender.
Foi precisamente por um ano que se estendeu a estadia da holding — que além do clube de Belas tem participação na Invesplano — no balanço do banco fundado por Jorge Jardim Gonçalves. “Durante o primeiro trimestre de 2019, o Grupo procedeu à venda do Grupo Planfipsa”, apontou o relatório e contas do BCP.
A operação concretizou-se em fevereiro. E foi em março que o grupo André Jordan anunciou o acordo com a Oaktree para o investimento de €500 milhões no clube de Belas, que conta com 2500 residentes.
“Em fevereiro de 2019, e em função do sucesso de vendas da nova fase do Belas Clube de Campo, o Lisbon Green Valley, o fundo de investimento Oaktree Capital Management adquiriu a totalidade do capital da Planfipsa ao André Jordan Group, ficando o mesmo responsável pela estratégia de desenvolvimento imobiliário do Belas Clube de Campo, com Gilberto Jordan na liderança como presidente e CEO”, responde a assessoria do grupo, adiantando que o grupo “mantém uma participação nos resultados futuros”, mas recusando falar sobre as ligações ao BCP. Também “a Oaktree recusa fazer comentários sobre a Planfipsa”.