Economia

Portugueses não se assustaram com as mortes misteriosas de americanos na República Dominicana

Afinal, quais são os destinos de férias que seduzem os portugueses? Fizemos a análise aos locais prediletos e aos preços (estão entre €750 e €1000 por pessoa)

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Este verão, todas as latitudes estão em alta, mas há uns destinos turísticos mais populares e que se destacam dos restantes. Tunísia, Egito e Turquia estão em modo de recuperação, Cabo Verde e Marrocos consolidam a tendência de serem destinos da moda.

A procura pela República Dominicana não ficou ensombrada pelas mortes misteriosas de turistas americanos em resorts de luxo. O Brasil perde fulgor. E, com a concorrência a apertar, os preços estão em queda. Uma semana em Cabo Verde fica por pouco mais de 500 euros. Por 800 euros pode seguir para um hotel de luxo em Punta Cana.

Os portugueses estão a reservar as férias cada vez mais cedo, beneficiando as promoções que incorporam.

“Os portugueses estão a viajar mais para o exterior mas convém acentuar que a grande maioria escolhe destinos internos, como Algarve, Madeira/Porto Santo e Açores. Todos registam uma procura crescente”, comenta Alberto Machado, porta-voz da Abreu, a agência que lidera o setor.

Grandes viagens

O gestor destaca “a consolidação do destino Cabo Verde”, a preferência em crescendo por São Tomé e Príncipe e sedução dos portugueses pelas “grandes viagens”, com destinos como Maldivas, Tailândia ou Seychelles a registarem “uma procura expressiva”.

Mas, este segmento está reservada a carteiras recheadas. Numa versão minimalista consegue passar uma semana na Tailândia por menos de 1000 euros, mas programas mais ambiciosos fazem os custos disparar. As soluções são múltiplas e os preços muito variáveis.

No segmento mais acessível, a Abreu aponta ainda as Baleares e Canárias. Na Europa, a fusão do turismo com praia impulsiona a procura pela Itália e Grécia.

Tal como em 2018, o aumento na venda de viagens para exterior beneficia, segundo os operadores turísticos, da oferta reforçada de charters nos aeroportos de Porto e Lisboa.

Medina de Marraquexe

Marrocos aqui tão perto

Ligar para a Soltrópico, um dos principais operadores turísticos, é logo um sinal das tendências atuais. A central telefónica tem um canal reservado para os clientes de Cabo Verde, um outro para o bloco Marrocos, Tunísia e Médio Oriente e um terceiro para Brasil e outros destinos.

Mas, os mercados com promoções mais agressivas no seu site são a Madeira, Cabo Verde, Saïdia (Marrocos), São Tomé e Brasil. Para Cabo Verde há mesmo uma promoção de última hora para setembro com descontos para o acompanhante. Um programa de oito dias fica por 517 euros (788 euros na modalidade de tudo incluído).

Ao Expresso, o diretor operacional Fernando Bandrés, diz que verifica “uma
procura forte” em todas as operações charter destinadas em especial para destinos de sol e praia". E quais são eles? Ilhas do Sal e Boavista (Cabo Verde), Monastir (Tunísia), Saïdia, uma zona balnear no norte de Marrocos.

Cabo Verde e Saïdia “ganham cada vez mais preponderância”, sintetiza o diretor da Soltrópico.
Adicionalmente, o operador realça “uma forte procura para Porto Santo e para os Açores, neste caso em modelo de circuito, combinando várias ilhas”.

Tal como a Abreu, a Soltrópico nota uma tendência para reservar cada vez mais cedo as viagens para o exterior. “Em fevereiro e março já existiam muitas reservas efectuadas, o que demonstra que os portugueses querem cada vez mais garantir as férias nas datas e destinos que pretendem”, diz Fernando Bandrés.

Quota de 10% em Cabo Verde

Portugal é o quarto mercado emissor de turistas para Cabo Verde com uma quota de 10%. Em 2018, foram mais de 76 mil os portugueses que fizeram férias no arquipélago. Marrocos é mais popular. Em 2018, a cifra superou a barreira dos 100 mil.

Se acrescentarmos a Tunísia à lista, temos os mercados que mais estão a bombar para este verão. O mercado tunisino, rival direto do Algarve, iniciara em 2018 uma rota de recuperação, depois da queda abruta registada após os atentados terroristas. A Turquia e Egito também recuperam poder de sedução.

Os operadores não estão surpreendidos. “O desempenho está em linha com a evolução mais recente. Cabo Verde é apetecível todo o ano e está com uma procura mais aquecida por causa dos preços competitivos, oferta de voos e hotelaria moderna”, justifica Alberto Machado.

Basta consultar os catálogos das agências de viagens para confirmar que entre os 500 e 700 euros há pacotes disponíveis para as ilhas caboverdianas.

Marrocos é um clássico nas preferências, mantendo-se como um campeão de vendas. No verão a tónica são destinos-resort e servidos por charters como Saidia ou Agadir, mas segundo os operadores é um destino que se vende o ano inteiro, destacando-se cidades como Marraquexe, além de uma série de circuitos.

Varadero, em Cuba, é um dos destinos preferidos nas Caraíbas mas não ganha terreno a Punta Cana
DR

República Dominicana incólume

Nas Caraíbas, o poder de sedução permanece ao nível de anos anteriores. A novidade aqui é que opções como Varadero (Cuba) ou Cancun (México) não beneficiam de uma possível debandada de República Dominicana por causa das mortes suspeitas.

“O efeito é inexpressivo, não houve derivas para outros mercados”, nota o porta-voz da Abreu.

O mercado americano sobressaltou-se quando foi revelado, há meses, que 19 turistas (oito em 2019) hospedados em resorts de luxo tinham morrido em circunstâncias misteriosas.

O mês passado o governo português pôs água na fervura do alarmismo, sossegou as hostes, apontando como causa provável das mortes “o consumo de bebidas alcoólicas contrafeitas”.

Por ano, há dois milhões de americanos que passam férias na República Dominicana. Para a dimensão de Portugal, o pelotão luso é relevante: Em 2018, viajaram para o país 43 mil portugueses, sendo agosto o mês mais procurado: sete mil turistas.

A cifra de 2018 compara, por exemplo, os 31.843 portugueses que seguiram para Cuba - um número recorde - ou os 150 mil que optaram pelo Brasil. Portugal é o 10º mercado emissor para o Brasil, com uma quota de 2,3%.

O México abrandou o crescimento, depois de quase ter duplicado o número de turistas portugueses no triénio 2015/18. Os 49.172 de 2018 comparam com os 27 mil de 2015. O ano passado, o México recebeu 41 milhões de turistas.

Por 1000 euros pode aceder a estes destinos designados por Caraíbas, mas convém ter a noção de que não há almoços grátis. Ou seja, são muitas as variáveis que entram na composição do preço final - e a advertência é especialmente relevante nos programas para este região em que pode combinar sol e praia com circuitos turísticos.

Cruzeiros populares

Outro negócio em modo de prosperidade é o dos cruzeiros. O segmento democratizou-se e numa década duplicou a comunidade cruzeirista mundial.

Portugal replica a tendência. A Abreu destaca as opções Mediterrâneo ou os circuitos Báltico e fiordes, no norte da Europa.

Este ano, há uma nova tendência: os cruzeiros fluviais, com destaque para os principais rios da Europa. Há preços para quase todas as bolsas, a partir de 400 euros. Tudo depende da versão, da época do ano e da antecipação da reserva.

O grande crescimento face a 2018 "regista-se mesmo no segmento de cruzeiros". Os portugueses "descobriram a versatilidade de fazer férias num navio, uma opção que se revela atrativa e compensadora tendo em conta em preço face à qualidade e experiência", nota a diretora de marketing do grupo Wamos (TopAtlântico e Geostar), Margarida Blattmann.

O grupo Wamos nota o "ressurgimento de destinos como Hurghada (Egito) e Monastir (Tunísia) no segmento tudo incluído. Nos destinos fora de operações charter, a Rússia surge como um destino emergente, tal como regiões asiáticas com ligações aéreas mais fáceis.

Tudo incluído

E qual o perfil-tipo do turista de verão? “A maioria dos portugueses prefere pacotes de sete noites, com estadias em resorts com regime de tudo Incluído, especialmente no caso de famílias”, responde o diretor da Soltrópico.

O preço médio do pacote de férias “situa-se entre os 750 e os 1000 euros por pessoa, para este regime tudo incluído”, acrescenta Fernando Bandrés.

No geral, os clientes "fazem a sua escolha tendo em conta o preço, com o máximo de serviços", diz a diretora da Wamos Portugal. A preferência "vai para pacotes em regime de tudo incluído" e nesta frente as operações charter para Cabo Verde, Ilhas espanholas, Caraíbas, Tunísia e Marrocos revelam-se imbatíveis.

A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo /APAVT) não esteve disponível para traçar ao Expresso um retrato da procura turística.

O português “habituou-se a viajar”, dizem os operadores turísticos e os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmam.

No balanço de 2018 sobre as viagens dos portugueses para o exterior, o INE registou um crescimento de viagens e que o modo turista ganhava um peso cada vez maior. Uma em cada dez viagens turísticas dos portugueses teve em 2018 como destino um país estrangeiro.

Se as viagens no mercado interno subiram 3,2%, para o estrangeiro, em trabalho ou lazer, a subida em 2018 foi de 13,3% - a maior parte delas são em turismo.

Os principais destinos, segundo o INE, são países da União Europeia. Espanha continuou a liderar, baixando a quota entre os nacionais que viajam para fora, de 35,4% para 31,9%. Uma perda que parece ter beneficiado França, cuja quota subiu de 11% para 13,7%. O Reino Unido viu cair a procura portuguesa de 9,2% para 7,3%.

A internet é o meio preferido para marcar viagens para o estrangeiro, mesmo quando
as férias com percursos predefinidos e com guias. Segundo o INE, 89% das viagens ao estrangeiro foram realizadas com marcação prévia.


E os destinos mais pesquisados?

A Momondo, um motor de busca que pesquisa agências de viagens e companhias aéreas e compara preços para voos, hotéis e carros de aluguer, faz periodicamente o balanço os destinos mais pesquisados pelos utilizadores portugueses.

Como refere Margarida Gameiro, porta-voz da empresa, a tabela “regista os destinos que suscitam mais curiosidade e interesse” e funciona como um barómetro das “intenções dos viajantes”.

Pelas pesquisas de voos em classe económica efetuadas até fim de junho para viagens realizar entre o início de junho e o fim de agosto, as cidades de Londres (Europa) e Nova Iorque (fora da Europa) foram os destinos com mais cliques.

As metrópoles mais cosmopolitas convivem com destinos mais exóticos, como Marraquexe (Marrocos), ou Espargos, a capital da ilha do Sal. As duas cidades acompanham Nova Iorque no pódio. Os Estados Unidos estão ainda representados por Miami (9º lugar) e Newark (10º).
O top 10 inclui ainda Denpasar (4º lugar), a capital da província indonésia de Bali, Banguecoque, capital da Tailândia, Toronto, no Canadá, São Paulo, no Brasil e Tóquio, a capital do Japão.

Desta lista da Momondo, Denpasar surge como destino mais caro para viajar, com um o preço médio (ida e volta) de 832 euros. Marraquexe é o destino mais barato (166 euros) e a ilha do Sal fica também em conta (319 euros). Os outros destinos ficam, em geral, na faixa entre os 500 e os 700 euros.
Na Europa, Paris (2º) e Barcelona (3º) rivalizam com Londre numa lista que acolhe Palma de Maiorca (5º) com único destino de praia. Palma e Amesterdam (159 euros) surgem como os destinos mais caros.

Segundo um estudo do IPDT - Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo três em cada quatro portugueses (77%) declararam fazer férias fora de casa entre junho e setembro. A maioria (40%) aponta o Algarve como destino de eleição. Os resultados da amostra são idênticos aos de 2018.

Entre os que inquiridos que optam pelo exterior, 28% apontam a Europa como destino, com destaque para a Espanha. Segundo este estudo de intenção de férias, as estimativas de gastos apontam para uma média de 434 euros..