Numa carta enviada esta terça-feira ao Facebook, os líderes democratas da comissão dos serviços financeiros da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos (EUA) pediam à multinacional norte-americana para “cessar imediatamente os planos de implementação” da criptomoeda Libra e da carteira digital Calibra.
A tecnológica anunciou recentemente a sua união, através da Associação Libra, a 27 parceiros - como a Visa, Mastercard, Uber, Spotify e a luso-britânica Farfetch - para criar aquilo que acredita que será uma criptomoeda global, descentralizada, estável, eficiente e segura, assente numa blockchain aberta, que permite a qualquer pessoa criar aplicações. A primeira, anunciada pelo Facebook, é a carteira digital Calibra para a realização de transferências e pagamentos imediatos.
Mas os políticos norte-americanos estão apreensivos. “Estes produtos podem dar origem a um novo sistema financeiro global com sede na Suíça e rivalizar com o dólar e a política monetária dos EUA”, escrevem os deputados. “Isto levanta sérias preocupações sobre privacidade, comercialização, segurança nacional e política monetária não apenas para os mais de 2 mil milhões de utilizadores do Facebook, mas também para os investidores, consumidores e para a economia global.”
Foi por esse motivo que - na carta endereçada ao presidente executivo do Facebook Mark Zuckerberg, à diretora de operações Sheryl Sandberg e ao presidente executivo da Calibra David Marcus - pediram à tecnológica para colocar em espera o desenvolvimento deste projeto até que os deputados e os reguladores tenham tempo para analisar os seus riscos para o sistema financeiro global.
“Uma vez que o Facebook já está nas mãos de um quarto da população mundial, é imperativo que o Facebook e os seus parceiros cessem imediatamente os planos de implementação até que os reguladores e o Congresso tenham oportunidade de examinar estes temas e tomar medidas”, lê-se na carta da comissão liderada por Maxine Waters, que já tinha pedido à multinacional para esperar pela avaliação de deputados e reguladores.
Os deputados acreditam ainda que se produtos deste tipo forem “regulados de forma insuficiente (...) podem colocar riscos sistémicos que prejudicam a estabilidade financeira global e dos EUA”, lê-se na carta. "Esses riscos são ainda mais gritantes à luz do passado complicado do Facebook, onde nem sempre manteve os utilizadores seguros. Por exemplo, a Cambridge Analytica, empresa de consultoria política contratada pela campanha de Trump em 2016, teve acesso a mais de 50 milhões de dados pessoais de utilizadores, que usou para influenciar o seu voto.”
O Facebook garante que vai "colaborar com os deputados neste processo, inclusivamente respondendo às questões da audição na comissão dos serviços financeiros", garantiu fonte oficial da empresa ao "The Verge".