Economia

Banco de Portugal autoriza ex-administrador da CGD a continuar à frente do Banco Finantia

A auditoria da EY à CGD obrigou o Banco de Portugal a uma atenção especial a António Vila-Cova. O supervisor concluiu pela sua aprovação para permanecer como "chairman" do Finantia

Francisco Seco

O Banco de Portugal deu autorização para que um ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos, que estava sob avaliação devido à auditoria da EY, pudesse permanecer à frente do Banco Finantia. António Vila-Cova continuará, assim, a ser o presidente não executivo da instituição financeira, onde exerce funções desde 2009.

Vila-Cova era um dos sete antigos gestores do banco público que estavam em funções na banca e que se encontravam sob avaliação do supervisor devido às conclusões da auditoria feita pela EY aos atos de gestão da CGD, nomeadamente operações de crédito que não respeitaram os procedimentos internos. O objetivo era o supervisor perceber se deveria haver uma reavaliação da idoneidade.

Nesta avaliação, o Banco de Portugal teve de olhar para a materialidade das perdas causadas por decisões tomadas na CGD. No caso de Vila Cova, esteve na equipa presidida por Vítor Martins, onde foi colega de Carlos Costa, o atual governador. Passou a administrador em 2004, saiu no ano seguinte. A equipa acabou destituída por decisão de Fernando Teixeira dos Santos, que substituiu por Carlos Santos Ferreira, ainda que Carlos Costa aí se tivesse mantido.

Além do Finantia, onde é “chairman” desde 2015 (estava já no conselho fiscal desde 2009), Vila-Cova é administrador da Mota-Engil. Foi administrador do Banco de Fomento Exterior e do Banco Borges e Irmão de 1992 a 1996, indo depois para a CGD, onde passou a administrador em 2004 (e saiu em 2005). Também passou pelo BPN na equipa de Miguel Cadilhe (que não conseguiu impedir a nacionalização), em 2008.

Esta sexta-feira, 31 de maio, realiza-se a assembleia-geral de acionistas, em que as eleições para o triénio 2019-2021 terão lugar. E Vila-Cova tem, assim, autorização para se candidatar novamente a “chairman”. Até aqui, a atual administração tem apenas outros três nomes: António Santiago Freitas, David Guerreiro e Ricardo Caldeira.

O Finantia, instituição centrada na banca privada e de assessoria financeira, está com a sua equipa de gestão desequilibrada desde o final de 2017. O antigo presidente executivo, Pedro Perestrello dos Reis, abandonou a presidência executiva nessa altura e, até aqui, continua sem CEO. António Guerreiro foi o presidente do Finantia até 2015, de onde saiu depois de um processo contraordenacional. Contudo, continua a ter uma presença efetiva no banco, já que é o principal acionista (Finantipar), estando também no conselho estratégico.

Já António Vila Cova ficou no cargo, apesar da saída do "chairman", mas acabou por enfrentar um problema agora pela auditoria feita pela EY à CGD. Contudo, apesar das dúvidas e da avaliação que teve de ser alvo, conseguiu aprovação.

Ao contrário de Vila-Cova, um dos nomes que estava sob averiguação era José Araújo e Silva, saiu do Eurobic – presidido por Teixeira dos Santos – antes do final do mandato. Não foi dada justificação.

O Jornal Económico noticiou já que António de Sousa também tinha sido autorizado a permanecer na ECS. e que Vítor Fernandes (Novo Banco), Jorge Cardoso (Novo Banco), João Nuno Palma (BCP) e Maria João Carioca (CGD) estavam neste grupo a ser alvo de atenção específica do Banco de Portugal, sendo que todos eles permanecem nos respetivos cargos.

Antes deste olhar específico, já dois nomes de ex-gestores da Caixa não tinham conseguido ser aprovados: Norberto Rosa e Pedro Cardoso. O primeiro queria ir para o BCP e o segundo para o Bison Bank, mas foram os primeiros a desistir das candidaturas. Aliás, só no último mês é que as duas instituições financeiras resolveram os efeitos da auditoria.