Economia

BCP torna-se um pouco menos português e um nadinha mais chinês. Anglo-saxónicos perdem mais peso

Fosun volta às compras de ações e aproxima o investimento chinês da maioria portuguesa no capital do BCP. Em mãos nacionais ficarão 9,18 milhões de euros dos dividendos a pagar pelo banco que, entre junho e dezembro do ano passado, perdeu acionistas

TIAGO MIRANDA

A Fosun aumentou a participação que tem no Banco Comercial Português na segunda metade do ano passado. Aumentou, assim, ainda que ligeiramente, o investimento chinês no banco liderado por Miguel Maya. A Sonangol manteve a sua posição, mas houve um crescimento da presença angolana na instituição financeira. Em sentido inverso, Portugal perdeu peso, ainda que continue a ser a geografia mais relevante. A maior diferença é, contudo, outra: a dos britânicos e americanos, cuja presença no capital caiu de modo mais expressivo.

O grupo chinês encabeçado por Guo Guangchang não fazia compras de ações do BCP desde o final de 2017. Tinha, em dezembro passado, uma participação de 27,25% no BCP, segundo o relatório e contas do banco em 2018. É um aumento ligeiro em relação aos 27,06% em junho anterior. Em causa está a aquisição de quase 29 milhões de ações representativas do capital do banco naquele período. O preço médio da ação do banco presidido por Miguel Maya foi de 0,247279 euros nos seis meses, o que perfaz um investimento em torno de 7 milhões.

Este foi um regresso às compras de ações do BCP por parte da Fosun. Desde o final de 2017 que a posição acionista se mantinha inalterada. Foi no final de 2016 que o grupo que controla a Fidelidade passou a acionista do BCP. E no ano seguinte aumentou a posição. Até que parou as aquisições. Até à segunda metade de 2018. Sendo cotado em Hong Kong, o grupo chinês não revela que intenções tem para o banco português, investimento que tem sempre considerado estratégico.

EDP perde peso

O investimento chinês cresceu, assim, de 27,1% para 27,3%. Uma evolução que acontece em sentido oposto ao que aconteceu à presença de acionistas portugueses, que, ainda assim, continuam a ser os mais representativos: o peso desceu de 30,8%, em junho, para 30,6%, em dezembro. Um dos responsáveis foi o grupo EDP que, através do fundo de pensões, é um dos acionistas qualificados do banco fundado por Jorge Jardim Gonçalves (face a quem sofreu um novo contratempo no objetivo de cortar a sua pensão). A EDP alienou títulos e a posição passou, em seis meses, de 2,11% para 2,09%.

Até à entrada da Fosun, em 2016, os acionistas portugueses eram aqueles que mais peso tinham no capital da instituição financeira, na ordem dos 60%.

Intacta ficou a presença da Sonangol no capital do BCP neste período: 19,49%. Ainda assim, o peso dos acionistas angolanos no capital do banco cresceu de forma leve, subindo de 19,6% para 19,7%.

No ano que antecedeu a saída do Reino Unido da União Europeia, a maior diferença é nos investidores do Reino Unido e dos EUA. Eram titulares de 11,7% das ações do BCP no final do primeiro semestre do ano passado, uma percentagem reduzida para 10,8% seis meses depois - ainda assim bastante acima dos cerca de 5% antes da entrada da Fosun. A BlackRock, a única representante destes mercados com participação qualificada, mantém a mesma posição, de 3,39%.

Aumentam, em sentido inverso, os acionistas de outras geografias, não identificadas, que passam de 10,8% para 11,6%.

Portugueses recebem 9,18 milhões em dividendos

Estes movimentos ocorreram num período em que o BCP voltou a perder acionistas que, antes da entrada da Fosun, se aproximavam dos 200.000. “De acordo com informação da Interbolsa, em 31 de dezembro de 2018, o número de acionistas do Banco Comercial Português ascendia a 159.670”, revela o relatório e contas do BCP relativo ao ano passado. O número representa uma diminuição em relação aos 164.333 acionistas contabilizados em junho.

São estes os acionistas que vão receber o dividendo de 0,2 cêntimos por ação, ou 30 milhões de euros no seu todo, caso haja aprovação da proposta da administração na assembleia-geral de 22 de maio - é a primeira vez que vai pagar esta remuneração acionista desde 2010. Tendo em conta a atual distribuição acionista, a Fosun receberá quase 8,24 milhões de euros, acima dos 5,89 milhões que irão para a petrolífera angolana. A BlackRock recebe 1 milhão, enquanto o fundo de pensões da EDP fica com uma fatia de 630 mil euros.

Olhando para a geografia dos acionistas, havendo 30,6% de acionistas nacionais, a fatura de dividendos que fica em Portugal é de 9,18 milhões.

O BCP é o único banco cotado na Bolsa de Lisboa. O BPI saiu de bolsa no fim do ano passado, para passar a ser totalmente detido pelo CaixaBank. O Santander Totta pertence ao espanhol Santander – que continua no mercado bolsista espanhol, mas deixou de ter ações cotadas em Lisboa. A CGD é detida na totalidade pelo Estado português. O Novo Banco é controlado pela Lone Star, tendo o Fundo de Resolução uma posição de 25%. O Banco Montepio é detido pela associação mutualista com o mesmo nome, tendo uma reduzida parcela do capital dispersa por entidades da economia social, como a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.