Economia

OPA da China Three Gorges à EDP cai se desblindagem de estatutos for rejeitada quarta-feira

A China Three Gorges, que tem 23% da EDP mas quer ficar com pelo menos 50%, não vai renunciar da desblindagem de estatutos como condição essencial para avançar com a OPA. Essa desblindagem é votada na quarta-feira. Seja qual for a decisão dos acionistas, a empresa chinesa respeitá-las-á e permanecerá na empresa chefiada por António Mexia

O presidente executivo da EDP, António Mexia, reclama que o Estado devolva a contrapartida que a EDP pagou há 10 anos
Luís Barra

A China Three Gorges continuará como “investidora estratégica de longo prazo” da EDP mesmo que a oferta pública de aquisição sobre a elétrica caia. A afirmação é dada a dois dias da assembleia-geral que vai decidir se a operação tem pernas para andar. Para já, há uma certeza, dada pela maior acionista da elétrica portuguesa: a OPA fica pelo caminho se a desblindagem dos estatutos, com o levantamento do limite de votos a cada acionista que existe atualmente, não for aprovada nesse encontro.

“A CTG gostaria de declarar irrevogavelmente a todos os interesses e, em especial aos acionistas da EDP, que todas as condições a que o lançamento da oferta se encontra sujeito permanecem em vigor e, especificamente, no caso de o resultado da votação não permitir a eliminação do atual limite à contagem de votos, que a CTG não renunciará a essa condição”, indica Wu Schengliang, presidente da China Three Gorges (Europe), em nota enviada ao vice-presidente da mesa da assembleia-geral da EDP e comunicada pela empresa portuguesa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Esta quarta-feira, dia 24, realiza-se a assembleia-geral da EDP, em que um dos pontos que será colocado a votação é a desblindagem dos estatutos, ou seja, o fim do limite, que impõe que um acionista não possa votar mais do que 25% dos votos, mesmo que tivesse uma participação superior - esta votação foi uma jogada do fundo Elliott International para antecipar um desfecho da OPA.

A China Three Gorges tem 23% dos votos da EDP, mas com a oferta espera ter pelo menos 50%. Os limites atualmente existentes impedi-la-iam de votar com o equivalente a toda a sua posição, se esta superasse os 25%. Daí que a eliminação deste tecto fosse uma condição essencial para o sucesso da OPA por si lançada sobre a empresa portuguesa.

Se condição for chumbada, pode haver desistência da OPA

A CMVM já deu um esclarecimento público sobre o tema, dizendo que se os acionistas chumbassem a desblindagem, a OPA sobre a EDP (e sobre a EDP Renováveis) ficaria pelo caminho, a não ser que a China Three Gorges assumisse que renunciava àquela condição. Ora, foi precisamente o contrário que foi feito: não houve renúncia.

Assim sendo, a empresa chinesa poderá depois desistir da oferta, já que uma das condições definidas aquando do lançamento não foi cumprida.

Havendo, pelo contrário, uma decisão favorável na quarta-feira às pretensões da CTG, a OPA continuará, mas há um limite temporário. A CMVM determinou que no prazo de 45 dias tinham de ser cumpridas todas as formalidades, ou seja, obtidas todas as autorizações nas várias geografias em que a elétrica está presente. Mesmo que a assembleia-geral seja suspensa, este prazo também estará a contar.

“A CTG já obteve resultados positivos num grande número de aprovações regulatórias e, apesar de um ambiente geopolítico e macroeconómico mais desafiador, continuamos a trabalhar ativamente para a conclusão bem-sucedida dos demais processos”, escreve o presidente da CTG. O mercado americano, onde a EDP Renováveis está presente em força, tem sido um dos mais desafiantes, tendo em conta as reticências dos Estados Unidos ao investimento chinês.

Mesmo com fim da OPA, CTG mantém-se

Na nota ao vice-presidente da mesa da assembleia-geral da EDP, a CTG adianta que “respeitará as decisões adotadas pelas autoridades e pela assembleia-geral”.

“Além disso, a CTG permanecerá como investidora estratégica de longo prazo da EDP e continuará a contribuir para parceira estratégica para o desenvolvimento sustentável da sociedade, independentemente do resultado final da oferta”, assegura o grupo chinês, que continua a defender que a oferta sobre a EDP "representa uma solução clara e positiva (solução 'win-win-win') para a EDP, os seus acionistas e Portugal".

A oferta foi anunciada em maio do ano passado e só agora está perto do fim, seja qual for a decisão saída da assembleia-geral desta quarta-feira.

(Notícia atualizada às 20.00 com mais informações)