Em Portugal, o Ministério das Finanças não forneceu ao Expresso informação atualizada sobre os Panama Papers, mas num conjunto de outros países o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) conseguiu apurar que mais de mil milhões de euros foram recuperados até agora pelas autoridades fiscais, quando se completam três anos sobre o lançamento daquela fuga de informação, depois de mais de 11,5 milhões de ficheiros de uma sociedade de advogados sediada no Panamá terem sido obtidos pelo jornal alemão "Süddeutsche Zeitung" e partilhados com o ICIJ e com mais de 100 parceiros de media.
Até ao momento, foi o fisco do Reino Unido que mais dinheiro conseguiu recuperar desde abril de 2016, num total de 226 milhões de euros, sendo que 106 milhões foram obtidos desde agosto de 2019. A seguir vem a Alemanha, com 163 milhões; a Espanha, com 146 milhões; e França, com 121 milhões.
Na Islândia, onde a fuga de informação levou à demissão do primeiro-ministro Sigmundor David Gunnlaugsson, foi possível recuperar quase 23 milhões de euros e os inspetores tributários concluíram 24 processos de investigação. E no Panamá, o país onde a sociedade de advogados Mossack Fonseca tinha o seu quartel-general, foram devolvidos 12 milhões de euros aos cofres do Estado.
Em muitos países, as autoridades continuam a investigar clientes e beneficiários finais de companhias "offshore" criadas ao longo dos anos pela Mossack Fonseca a partir do seu escritório do Panamá e das mais de 35 sucursais que possui em vários pontos do planeta. Na Áustria, dois bancos estão a ser escrutinados sobre se cumpriram as regras de prevenção de branqueamento de capitais. No Canadá, onde foram devolvidos até agora 10 milhões de euros, o fisco tem planos para auditar mais 234 contribuintes, além dos 66 que foram investigados até agora.
Na última vez que foi dado a conhecer o estado das investigações fiscais em Portugal relacionadas com a fuga de informação do ICIJ, num artigo do "Jornal Económico" publicado em novembro de 2018, tinham sido abertos processos de averiguação a 147 contribuintes com ligações a mais de 100 companhias "offshore", sendo que, de acordo com a Autoridade Tributária, citada pelo jornal, a maioria dos casos estava à espera de respostas aos pedidos de assistência mútua enviados para vários países, incluindo o Panamá, mas também os Estados Unidos.