Economia

Braço-direito de Lagarde elogia estabilidade política. A Europa tem de aprender com Portugal

A Europa tem a aprender com Portugal. O consenso político é importante e o país provou-o, considera David Lipton, na sua passagem por Lisboa. Mas o trabalho nacional ainda não acabou: o desemprego caiu, mas a maioria dos novos postos de trabalho paga o salário mínimo

SAUL LOEB/Getty Images

A Europa – e até o mundo – deve olhar para Portugal. No meio de uma crise, conseguiu alcançar acordo e consenso político para enfrentar as suas dificuldades. O elogio – e o aviso – parte do primeiro adjunto de Christine Lagarde na direção do Fundo Monetário Internacional, David Lipton.

“Não é uma meta de pequena dimensão. Num período de elevada incerteza e risco, este país mostrou que existe um caminho a seguir ao ultrapassar as diferenças para responder a desafios comuns”, declarou David Lipton no seu discurso conferência “Portugal: Reform and Growth Within the Euro Area”, organizada pelo FMI e pelo Banco de Portugal, que se realizou esta segunda-feira, 25 de março.

Para Lipton, os “resultados positivos” obtidos por Portugal nos últimos anos, depois de um programa de resgate financeiro no qual o FMI participou, mostram “a importância da coesão política na resposta às dificuldades económicas”.

Segundo o número dois de Lagarde, “esta é uma lição para o resto da Europa – na verdade, para o mundo. No domínio da política económica, o conflito e as ações unilaterais apenas aumentam as vulnerabilidades”.

As palavras de David Lipton, nas funções desde setembro de 2011, são proferidas num ano de eleições legislativas em Portugal, em outubro (que se seguem às europeias, em maio).

A importância de olhar para este compromisso entre os agentes políticos é necessária à luz da desfragmentação que se tem sentido em torno das soluções multilaterais que se foram encontrando desde a II Guerra Mundial. E, numa próxima crise, não haverá disponibilidade para utilizar os instrumentos que foram usados na crise financeira global, desde logo pela “resistência política” a novos resgates. E, é certo, há incertezas generalizadas que obrigam a que cada país ponha a sua casa em ordem para enfrentar um potencial abrandamento. Itália é vista, por Lipton, como o país que ainda não se recompôs para corrigir as suas vulnerabilidades. A Alemanha encontra-se na posição inversa.

Como sempre apontam as instituições como o FMI, embora haja progressos nesse caminho, eles não foram totais – nem na Europa nem em Portugal. Não há ainda uma partilha efetiva de riscos, até porque a união bancária, por exemplo, ainda não está completa, faltando a constituição do fundo único de garantia de depósitos.

Aumentar a produtividade. Emprego aumentou à base de salários baixos

No caso de Portugal, avisa o responsável da instituição sediada em Washignton, há um trabalho especial: aumentar a produtividade do país. Para isso, é preciso uma “nova vitalidade” no mercado laboral.

“O desemprego baixou de forma expressiva, com uma elevada proporção de novos empregos permanentes. Mas demasiados desses novos empregos pagam o salário mínimo”, continuou David Lipton, que acredita que o país tem condições para conseguir inverter esta situação.

Mas há mais: é preciso baixar o nível de crédito malparado na banca porque há recursos e capital das instituições financeiras que não podem ser alocados a “necessidades da economia do século XX” porque têm de ser gastos com estes empréstimos problemáticos e não produtivos. Aliás, a economia nacional necessita de reforma e de uma reestruturação no lado empresarial: há inteligência artificial, robótica e comércio eletrónico para abraçar.

Neste aspeto, o FMI deixa mais um apelo político: “O governo pode, aqui, desempenhar um papel crucial ao facilitar esta mudança se continuar focado nos esforços reformistas e ao ter a certeza de que as regulações que controla não desencorajam as atividades dinâmicas e inovadoras”.