Economia

Governo quer que a CGD “apure responsabilidades” pelas irregularidades detetadas

O Governo quer que a administração da Caixa Geral de Depósitos tome “todas as diligências necessárias para apurar quaisquer responsabilidades” nos atos detetados pela auditoria da EY e adote as “medidas adequadas” para defender o património do banco

Secretário de Estado das Finanças, Ricardo Félix Mourinho, com o ministro Mário Centeno
tiago miranda

Um dia depois de uma versão preliminar da auditoria aos atos de gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) ter revelado irregularidades na concessão de créditos e na atribuição de remunerações, o Governo vem dizer que quer que a administração da Caixa Geral de Depósitos tome "todas as diligências necessárias para apurar quaisquer responsabilidades" e adote as "medidas adequadas" para defender o património do banco.

Questionado pela agência Lusa, o Ministério das Finanças adianta, numa nota escrita, que "o Governo solicitou à Administração da CGD [Caixa Geral de Depósitos] que fossem efetuadas todas as diligências necessárias para apurar quaisquer responsabilidades que possam advir da informação constante do relatório", garantindo que "continuará a acompanhar este tema, tendo transmitido ao Conselho de Administração da CGD a necessidade de tomar as medidas adequadas para a defesa da situação patrimonial" do banco.

"O Governo está focado no presente e no futuro da CGD, através da implementação do seu plano estratégico, para garantir que a Caixa está em condições de exercer a sua função ao serviço da economia portuguesa", salienta.

O Ministério das Finanças recorda ainda que o Governo "solicitou a realização de uma auditoria independente a atos de gestão da CGD entre 2000 e 2015 e, no âmbito do exercício da sua função acionista, deu instruções à CGD para que relatório fosse remetido ao Banco de Portugal e ao Mecanismo Único de supervisão do Banco Central Europeu, bem como a outras autoridades judiciais, de inspeção, de supervisão ou em matéria tributária, caso os elementos do relatório se afigurassem relevantes para o exercício das suas atribuições".

"O relatório de auditoria contém informação sujeita a sigilo bancário, motivo pelo qual não é suscetível de disponibilização ao acionista", esclarece.

Revelada pela ex-deputada Joana Amaral Dias e depois noticiado em vários órgãos de comunicação social, entre os quais o Expresso, a auditoria da EY (antiga Ernst&Young) à CGD refere que os administradores da instituição receberam "remuneração variável" e "voto de confiança", mesmo com resultados negativos.

O documento é crítico, sobretudo, do período 2000-2008, em que "não foi obtida evidência dos princípios orientadores para a remuneração variável aplicada, concluindo-se que as decisões foram tomadas de forma avulsa": "Mesmo perante resultados negativos foi decidido atribuir remuneração variável e emitido voto de confiança", nota.

A auditoria realçou ainda que "em nenhum momento foi identificada a atribuição de remunerações variáveis em forma de instrumento financeiro" que incentivassem a um equilíbrio entre capital e riscos, nem a implementação de cláusulas de 'clawback', que permitem vincular os gestores com as decisões passadas.

A EY acredita que estas medidas poderiam ter contribuído para um "processo de decisão de crédito mais sustentado e atento ao risco, tendo por referência as operações analisadas na presente auditoria", permitindo