Lamenta não ter experimentado a meditação mais cedo, coisa que aconteceu quando já tinha “trinta e tal anos”. Ricardo Parreira, CEO da PHC Software, diz que não foi fácil, mas quis tanto ser capaz de meditar que fez “três cursos de iniciação”. Hoje, não dispensa aqueles minutos diários de reflexão e recomenda. Aliás, o curso para aprender a meditar é um dos presentes que gosta de dar aos amigos, e já conseguiu converter alguns, “poucos, mas cada um é uma vitória”. “Sou uma pessoa mais feliz, menos ansiosa, com muito maior discernimento. E ter um discernimento apurado é fundamental para tomar decisões”, afirma. Acredita que “a felicidade é altamente lucrativa” e que qualquer investimento no bem-estar da organização traz sempre um bom retorno, e por isso não teve dúvidas em criar um espaço dedicado à meditação dentro do escritório (na foto). Os colaboradores têm aderido à ideia, o que leva a que essa sala esteja sempre ocupada.
Mas olhemos para a década de 80, muito antes de a meditação chegar à vida do gestor, época em que Ricardo Parreira e o colega na Universidade Católica Miguel Capelão descobriram na Bolsa “uma forma fácil de ganhar dinheiro”, financiada com dinheiro emprestado pela família. “Durante um ano ou dois jogámos tudo o que tínhamos e, de repente, perdemos quase tudo, quando o [Aníbal] Cavaco Silva [então primeiro-ministro] disse que havia gato por lebre na Bolsa. Caiu tudo a pique, mas ainda vendemos algumas coisas e decidimos guardar o dinheiro para, um dia, abrir um negócio. Aprendi uma grande lição: é preciso trabalhar para ganhar dinheiro.” E, de facto, em 1989 nasceu a PHC, fundada pelos dois amigos (Ricardo formou-se em Gestão e Miguel em Engenharia), em conjunto com outro sócio, que entretanto deixou o projeto.
Os primeiros anos da PHC foram intensos, os sócios acumulavam o emprego com o projeto por conta própria. Decidiram-se pela consultoria, e o primeiro cliente determinou o futuro do negócio. “A empresa queria informatizar-se e precisava de software para gerir os departamentos que tinha. Na altura já adorava programar, até tinha feito jogos, o Miguel foi fazer um curso sobre redes e procurámos quem fornecesse os computadores. Tudo para ganharmos o negócio, e conseguimos”, recorda Ricardo Parreira. “Não havia sequer dinheiro para comprar computadores, mas conseguimos negociar um adiantamento e instalámos as máquinas. Aliás, nós não tínhamos um computador nosso e, de noite, íamos para o cliente programar”, recorda o CEO.
SOFTWARE POR MEDIDA
“Foi assim que começou, fazíamos programas por medida. Até que me apercebi de que não era rentável, porque para ter uma certa escala precisaríamos de muitos programadores. Era necessário um software que se pudesse vender a todos, e construímos um, primeiro na área da assistência técnica e depois um sistema de gestão de empresas, com faturação, contabilidade, etc”. Surge, então, outro desafio: “Comercializar estes produtos implicava dedicarmo-nos muito a essa tarefa e ter uma grande equipa de vendas, o que nos distraía do nosso negócio, que é fazer software.Seguimos para o modelo atual, que é termos distribuidores formados por nós. Depois, veio o euro e o bug do ano 2000, que fez com que todas as empresas tivessem de atualizar/mudar de software, e nós tínhamos um programa todo prontinho, já tínhamos evoluído de [MS] DOS para Windows, e foi uma grande oportunidade. Seguiram-se cinco anos em que crescemos sempre a 100%, quintuplicámos de tamanho, e foi uma altura de muitas contratações.” Tal como agora. “Temos 31 vagas em aberto para todo o tipo de funções, desde programadores, marketeers, assistentes e gestores de conta”, enumera Ricardo Parreira.
Hoje, a PHC Software, especialista em programas de gestão, tem operações em cinco países — além de Portugal, onde existem instalações em Lisboa e no Porto, a empresa portuguesa está em Moçambique, Angola, Espanha e, em 2015, começou a dar os primeiros passos no Peru, porque Ricardo Parreira acredita “no potencial da América Latina”. “O nosso objetivo é expandirmo-nos o mais possível, para onde quer que vamos o nosso software é incrivelmente bem recebido, mas internacionalizar é uma corrida de fundo”, frisa. Atingiram o marco dos €10 milhões de faturação em 2016, em 2017 venderam €10,8 milhões e em 2018 terão superado os €11 milhões (as contas ainda não estão fechadas). Ao todo, cerca de 31 mil empresas utilizam as soluções desenvolvidas pela PHC, o que corresponde a mais de 100 mil utilizadores diários.
O dinamismo do mercado das empresas de dimensão média tem contribuído para o crescimento da PHC. “As empresas com alguma dimensão estão a dar um valor à gestão que não davam dantes. Perceberam que sem números e sem informação em tempo real têm dificuldades em acompanhar a concorrência. Essa noção, que começou muito cedo nas empresas grandes, está agora a descer às [companhias] menores a alta velocidade.” Por outro lado, há “toda uma nova geração de gestores que sabem que o software não é só para faturação, têm noção que é uma ferramenta ótima para tratar da rotina e deixar as pessoas dedicarem-se ao desenvolvimento do negócio”.
O BEM-ESTAR É A CHAVE
Nada disto seria possível sem uma aposta na felicidade das pessoas que trabalham na PHC, garante Ricardo Parreira, que faz uma ligação direta entre a satisfação dos trabalhadores e o desempenho da empresa. A meditação integra as várias estratégias da PHC para promover a satisfação.
“De início houve ceticismo, aliás, há uns anos era raro não me olharem com estranheza, mas hoje já me vêm fazer perguntas, há cada vez mais interesse sobre a meditação. Até comecei a ser convidado para falar sobre isto em eventos de recursos humanos”, conta o gestor. Na sede da PHC, no Lagoas Park, em Oeiras, há uma sala para os trabalhadores meditarem, e os céticos tornaram-se praticantes, com as inscrições para as sessões de meditação permanentemente esgotadas. “Hoje, mais do que nunca, o foco é fundamental, temos tudo a distrair-nos. Descobri que não sou feliz se não me focar, porque caso contrário a minha agenda é a dos outros e não faço acontecer.”
“A felicidade no trabalho é importante para os indivíduos. Tem um efeito direto no nosso dia a dia e é um dos principais fatores das empresas saudáveis”, diz o CEO numa nota de abertura do livro que resultou do projeto My Happiness, levado a cabo em 2017 para tornar as pessoas “mais conscientes da felicidade”.
PERFIL
O CEO da multinacional portuguesa PHC Software, empresa que fundou juntamente com dois amigos em 1989, é apaixonado por liderança, estratégia de negócios e cultura empresarial. Ricardo Parreira, de 51 anos, está à frente da PHC desde o início, numa altura em que não havia startups nem se falava em empreendedorismo. “Era mais difícil arrancar com um negócio”, comenta, acrescentando que, no entanto, aqueles primeiros anos foram entusiasmantes, mesmo acumulando emprego com o negócio próprio. Praticante de meditação, Ricardo Parreira promove na empresa um ambiente de bem-estar.
CRESCIMENTO
182
é o número de trabalhadores da PHC Software (em 2017 eram 175). Atualmente, a empresa tem 31 vagas abertas para várias funções
6
é o total de escritórios da empresa, presente em cinco países: Lisboa e Porto (Portugal), Maputo (Moçambique), Luanda (Angola), Madrid (Espanha) e, mais recentemente, Lima (Peru)
11
milhões de euros foi o objetivo de faturação da PHC Software traçado para 2018, depois de ter atingido o marco de €10 milhões de vendas em 2016