Economia

Millennials alteram forma de trabalhar nas empresas

Mudança: Trabalho à distância é realidade nas PME, mas uso de ferramentas de produtividade ainda não está generalizado

Expresso e Microsoft associam-se em 2018 para discutir as principais questões tecnológicas para as PME e as grandes empresas em seis debates que se realizam até junho
Xolitos

Fátima Ferrão

Os millennials, a geração nascida entre 1980 e 1996 e que cresceu com a tecnologia, estão a mudar a maneira como se fazem os negócios e a criar um novo paradigma empresarial. Habituados a uma utilização intensiva do digital, são uma maioria nas empresas e representarão, em 2025, 75% da força de trabalho mundial. Para estes profissionais, desempenhar as suas funções de forma remota é natural e a existência de um espaço físico de trabalho não é fundamental.

Muito por força da chegada desta geração às empresas, o espaço de trabalho é hoje muito diferente do que era há uma década, com a mobilidade a ganhar peso na forma como se fazem e gerem os negócios. Uma conclusão comprovada pelo estudo do Expresso e da Microsoft e realizado pela GfK, que revela que em 59% das PME nacionais isto é uma realidade.

Deste conjunto de empresas, 37% asseguram que o desempenho à distância faz parte do dia a dia, enquanto 22% admitem estar a trabalhar nesse sentido. Um retrato empresarial que aponta para a modernidade mas que, ainda assim, conta com 38% dos inquiridos a confessar que não acreditam nos benefícios deste novo ciclo.

Mobilidade para... alguns
Apesar de despertas para as vantagens do trabalho remoto, muitas empresas não conseguem retirar potencial desta possibilidade devido às exigências do sector em que se inserem. É o caso da têxtil Mi Casa Es Su Casa, com sede em Guimarães. Embora esteja preparada para a mobilidade, o trabalho que desenvolve exige a presença física dos colaboradores. No entanto, “sempre que as funções o permitam, é possível trabalhar à distância”, garante Ângela Pedrosa, administradora.

Por razões distintas, a Sensei, uma jovem startup nacional, não fomenta o trabalho à distância. “Estamos a abraçar um desafio complexo a nível tecnológico e de negócio, sendo fundamental que a equipa esteja junta no escritório”, explica Joana Rafael, cofundadora da tecnológica. Já a DST Telecom, pela sua dimensão e pela natureza das operações do grupo em que se enquadra, tem “uma necessidade permanente de mobilização e afetação de recursos a diferentes localizações, pelo que um sistema de informação ágil para acesso de recursos à distância é essencial”, diz fonte do Departamento de Relações Institucionais da DST.

O tecido empresarial nacional está preparado para a mobilidade, como revela o referido estudo, mas o uso de ferramentas de produtividade e partilha, como o Skype, ainda não reúne consenso. Apenas 19% das empresas fazem reuniões online com regularidade, 36% fazem-no uma vez por mês, e quase metade (44%) nunca o fizeram. Curiosamente, das empresas contactadas pelo Expresso, e apesar dos distintos posicionamentos face ao trabalho remoto, quase todas utilizam de forma intensiva estas ferramentas. “As reuniões online simplificaram a comunicação, encurtaram distâncias e reduziram custos com deslocações”, refere a fonte da DST. O mesmo acontece na Sensei, que trabalha com vários parceiros internacionais e faz “uso intensivo de ferramentas de conference call”, como revela Joana Rafael. A vertente exportadora da Mi Casa Es Su Casa obriga também a esta prática, que, diz Ângela Pedrosa, “acontece diariamente com clientes de todo o mundo”.

Números do Estudo

29%
dos gestores inquiridos 
pelo estudo do Expresso 
e da Microsoft consideram prioritária a temática Mobilidade & Produtividade

44%
das empresas admitem que nunca fizeram reuniões online (através de Skype ou outras ferramentas), 36% fazem-no pelo menos uma vez por mês, 
e 19% dizem que o fazem duas a três vezes por semana

Xolitos

As cinco questões-chaves

1. Quais as tendências no trabalho à distância?

• Os ‘espaços’ de trabalho serão mais flexíveis e os trabalhadores mais ‘móveis’. Será habitual as empresas contarem com equipas mistas, entre colaboradores presentes nos escritórios e equipas móveis.
• A quantidade de informação gerada diariamente obriga os colaboradores a serem rápidos e a depender cada vez mais da tecnologia para decidir.

2. Haverá flexibilidade?

• Sim. O trabalho deixará de assentar num conjunto de horas do dia, tornando a jornada flexível e orientada por objetivos e deadlines. Os colaboradores não serão obrigados a estar num escritório e as organizações podem mesmo deixar de ter local físico.

3. O que muda com a geração millennial?

• Habituados à utilização intensiva do digital, 75% da força de trabalho mundial, em 2025, será composta por millennials.
• A Geração Z, que começa agora a chegar ao mercado de trabalho, e que nunca conheceu um mundo não-digital, está ainda mais aberta a modelos de trabalho remoto e colaborativo.
• Os millennials tratam a tecnologia como um ‘empregado’ e veem-na como uma utilitie.
• Não perdem tempo com notificações, e-mails, textos ou convites através de calendários. Eles customizam as suas apps, definições de privacidade e canais de social media para otimizar os fluxos de trabalho.

4. Quais os desafios da mobilidade?

• Unificar as comunicações online e offline, mantendo os colaboradores ligados através dos seus dispositivos móveis, e garantindo com segurança o acesso permanente e em qualquer local a ferramentas e a informação corporativa.

5. Como a tecnologia pode ajudar a produtividade?

• A tecnologia deve ser uma utilitie e contribuir para aumentar a produtividade.
• As ferramentas analíticas (big data) permitirão 
às empresas monitorizar como as equipas estão a trabalhar e a colaborar entre si e perceber quais os processos mais eficazes e essenciais.
• Mais de 50% das empresas já estão a usar o streaming de vídeo, quer como interface com os clientes como para processos corporativos internos.
• Ferramentas como instant messaging, chats e chamadas de vídeo serão mais usadas.
• Plataformas que permitem colaboração entre equipas de forma imersiva (nova geração de whiteboards) já são usadas por 70% das organizações a nível mundial e tornar-se-ão mais comuns.

Na quinta 
há debate

No dia 22, na sede da Impresa, acontece o segundo dos seis eventos do “Ativar o Futuro”. Será sobre Mobilidade & Produtividade — depois da primeira mesa-redonda dedicada à Segurança & Privacidade — e analisaremos os novos desafios das empresas, cada vez mais forçadas a trabalhar com equipas em mobilidade, à distância e em vários continentes, mantendo uma interação constante com os consumidores e com a gestão. Neste projeto do Expresso e da Microsoft serão também abordados temas como a big data, gestão financeira e apoio ao consumidor, entre outros. Em paralelo aos eventos liderados por gestores, será realizado um inquérito a PME sobre cada tema.

Textos originalmente publicados no Expresso de 17 de fevereiro de 2018