Há tantas alternativas no mercado e nós não somos especialistas em aquecimento. Acabamos por confiar no que nos diz o vendedor. Só sabemos que queremos ter a casa confortável e que normalmente o orçamento para tratar do aquecimento não é aquele que gostaríamos que fosse.
Não é por acaso que os aquecedores mais vendidos em Portugal (e vão continuar a ser) são os elétricos a óleo ou os termoventiladores (as ventoinhas que espalham o ar quente). São baratos e resolvem a situação de forma quase imediata. É só ligá-los ao pé de nós e já está.
Mas o que nem todos sabem é que esses “pequenos” aparelhos são um verdadeiro sorvedouro de eletricidade. Há portugueses que ao fim do mês recebem uma fatura de luz de 200, 300 ou 400 euros. E ficam admirados e até acham que é alguma espécie de erro, quando a explicação está nesses aquecedores.
Vamos a contas. Um aquecedor elétrico (seja de que tipo for) gasta normalmente 2.000W (é verdade que com o termóstato vai ligando e desligando, mas vamos arredondar a conta para ser mais fácil de entender). Como cada kWh custa cerca de 20 cêntimos, quer dizer que cada hora que está ligado gasta 40 cêntimos. Parece pouco, não é?
O problema não é estar ligado uma hora ou duas. É ficar ligado toda a noite ou todo o dia durante todos os meses de inverno.
Se ficar ligado das 22h às 08h, são 10 horas de consumo. Dá um total de 4 euros por dia. Ao fim do mês são 120 euros só para aquecer um quarto. Se forem dois aquecedores, estamos a falar de 240 euros por mês, fora todos os outros consumos da casa.
Desde que tenha essa consciência e possa ter essa despesa, não há problema nenhum. Mas pense um pouco, a gastar isso de luz em quatro meses são 960 euros. Isso já dá para comprar um bom ar condicionado e fica a pagar um quarto ou um quinto de eletricidade para aquecer as mesmas divisões no próximo inverno - e ainda arrefece no verão. Obviamente, depois tem de contar com a manutenção e eventuais avarias. Vai ter de fazer bem as contas e escolher bem os aparelhos para evitar ao máximo despesas desnecessárias.
Seja como for, ainda antes disso, falei com vários especialistas nesta área e todos foram unânimes na ordenação dos equipamentos mais eficientes tendo em conta a média de consumo dos diversos aparelhos.
Falando de equipamentos portáteis, os mais eficientes são os aquecedores a gás. Tem como desvantagem o facto de muitas pessoas ainda terem receio de fugas e explosões, apesar dos modernos sistemas de segurança. E tem de arejar as divisões por causa do perigo do monóxido de carbono. Num aquecedor a gás dos mais modernos ligado no máximo, uma botija de 13 kg dá para 45 horas. Gasta quase 50 cêntimos por hora, mas como tem uma potência de 4 mil watts (o dobro dos aquecedores a óleo) aquece uma sala inteira por quase metade do preço dos elétricos. Tem de fazer as contas.
Nos sistemas de aquecimento mais complexos, no tipo da lista está a biomassa com recuperadores de calor (lenha - de graça em muitas zonas do país -, pellets, briquets, etc). Logo a seguir, o ar condicionado (bombas de calor) e as caldeiras a gás. Tem também cada vez mais opções de energia solar, mas com a opção de aquecimento de águas sanitárias. Depois começam a surgir alternativas infindáveis que juntam mais isto e aquilo. Vai ter de decidir primeiro quanto dinheiro tem para gastar e se quer fazer obras em casa ou não. Depois é ler e investigar muito.
Como já percebeu, as opções são imensas e dependem também do seu gosto pessoal e se mora num apartamento ou numa moradia.
Se tem dúvidas antes de fazer um grande investimento e quer um conselho profissional, pode contactar um perito qualificado de certificação energética. O certificado energético não serve só para vender ou alugar casas. Pode contratar um na página da ADENE - Agência para a Energia.
Mas antes disso, muitos portugueses esquecem-se que para aquecer a casa é primeiro preciso isolar as paredes. Sem isso não há milagres. Não adianta investir em aquecer a casa se o calor foge logo para a rua. Os especialistas insistem que os portugueses não se preocupam quase nada com o isolamento térmico das casas. Todas as casas deviam ter vidros duplos com uma caixa de ar com um mínimo de 16 mm de espessura e um capoto, se necessário. Um capoto é um termo técnico para um revestimento de esferovite e outros materiais isolantes que se coloca sobre a parede da casa e que serve de “manta” que aquece e protege a casa. Uma segunda pele.
Para uma casa específica (uma moradia duplex em Lisboa) que foi visitada por um perito de certificação energética, e cuja visita acompanhei, o investimento em aquecedores elétricos seria de 450 euros, uma caldeira a gás 4.500 euros, o ar condicionado 7 mil euros e um recuperador de calor com aquecimento a água 6 mil euros.
A aquecer apenas metade da casa 24h por dia, os aquecedores elétricos custariam 269 euros por mês, a caldeira a gás 131 euros, o ar condicionado 89 euros e o recuperador de calor a pellets 84 euros.
Em resumo, o conselho dos especialistas é, por categoria, na eletricidade: o ar condicionado; no gás, as caldeiras; na biomassa, os recuperadores de calor ou salamandras; e o aquecimento solar para quem quiser juntar sistemas de água quente.
Se o orçamento for curto tem os pequenos aparelhos portáteis a eletricidade ou gás, mas tenha a consciência de que está a pagar pequenas fortunas para aquecer a casa.
Mas o principal é primeiro isolar bem as paredes e janelas. Sem isso, está a deitar dinheiro à rua.