Duas horas e meia de viagem no comboio de alta velocidade, o famoso TGV (que aqui em França é tudo menos um projecto adiado), trouxeram a Selecção Nacional de Râguebi de Saint Étienne até Paris. Na capital francesa havia encontro marcado à hora de almoço com o embaixador António Monteiro num lugar verdadeiramente especial: o novo museu do cais de Branly, dedicado à antropologia. E é, justamente, numa perspectiva antropológica que este campeonato mundial ali é tratado. Mais que uma exposição no sentido tradicional, é um conjunto de iniciativas e debates através dos quais o râguebi é dissecado todos os dias, como se de um ritual exótico se tratasse. Ou seja, os especialistas aplicam à modalidade, à forma como é jogada e às multidões que arrasta, a grelha de análise usada para estudar as culturas das ilhas do Pacífico ou da África Central.
Mas a iniciativa "A Melée das Nações", tem, apesar de tudo, uma parte substancial: o terraço do museu foi transformado num relvado de râguebi, sendo uma sensação única, ver a vizinha Torre Eiffel ao nível e no enfiamento dos postes... Para além disso, a selecção da Nova Zelândia fez uma oferta carregada de sentimento e de exotismo, ou não estivéssemos num museu dedicado à antropologia. Os All Blacks fizeram-se fotografar dançando o inevitável "Haka" no meio da floresta. A partir deste retrato da equipa fez-se um quadro de quatro metros, cuja história morreria por aí, não fora o caso de cada jogador ter dado umas gotas de sangue para misturar nos líquidos usados para fixar a pintura. Um verdadeiro pacto de vida e morte, à maneira dos filmes de aventuras.
Foi neste "décor" que a comitiva portuguesa almoçou, saudada pelo embaixador de Portugal em Paris e pelo director do museu, o primeiro elogiando a ligação jogadores-país e o segundo fazendo referência ao contributo dos portugueses para o conhecimento das culturas distantes da Europa.
Enquanto ganhavam balanço para o treino da tarde, de adaptação ao relvado do Parque dos Príncipes (onde amanhã, dia 19, jogarão às 19h00 com a Itália, partida transmitida pela Sport TV), os nossos jogadores voltaram a demonstrar que são homens de múltiplos talentos. O ponta Gonçalo Foro, foi ao microfone e, mesmo sem guitarra nem viola, arrancou uma, mais que razoável, interpretação de um fado. Espera-se igual inspiração a driblar os italianos e a correr para a linha de fundo.