Dia #7 na estrada.
Chegados a Castro Verde, passámos por um grupo de senhoras sentadas na rua, ao fresco, a discutirem o que tinham acabado de ver sobre o país e o mundo na abertura do noticiário. Boa tarde para cá, boa tarde para lá, de onde vêm, quem são e acabámos por nos juntar a elas por uns instantes.
"Viemos para aqui para aliviar a cabeça do telejornal", explica Evangelina Torres, 63 anos. "A gente fica triste com as notícias dos professores, parte deles fica no desemprego."
À sua frente, Maria José Colaço, de 74 anos, lamenta as "mortes, as desgraças e os desempregados." O guião das notícias satura. Balbina da Conceição, de 83 anos, quer é saber do Preço Certo, do senhor Mendes, e das novelas que vê de atacado logo a seguir. "É o que nos vale. Mas está-se pouco bem cá fora, está-se..."
Evangelina, reformada de limpezas domésticas, traz ao assunto a tragédia do avião da Malaysia Airlines, mas o problema que lhe entra casa adentro é o dos professores. "Tenho um filho professor, solteiro, de 33 anos, e não acho correto eles terem que se avaliar uns aos outros. É triste e não vai dar bom resultado." Todos os fins de tarde, quando o sol desaparece, "estas maganas", como diz Evangelina, juntam-se para discutir as notícias e celebrar a "vida bonita do campo", com amizade e partilha. "Esta é uma terra asseada, bonita e as pessoas são dadas, como podem ver", despede-se Evangelina.
Entre os telejornais, o pôr do sol e a [sagrada] hora da novela, Maria José Colaço ainda nos diz, em tom de pedido a quem de direito, "não tirem mais dinheiro à gente". Recado dado.
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