Dia #10 na estrada. Peniche
Voltámos à nossa viagem pelo país. Desta vez, após uma tareia de autoestrada e dia de entrevistas, escolhemos a cidade de Peniche para acabar o dia, ainda a tempo de ver um super pôr do sol. E, logo depois, a tão badalada superlua. E desta vez não houve dois "super" sem três. Porque naquele belo cenário decidimos espreitar o interior de uma grande autocaravana que avistámos junto à praia da Consolação, num parque de estacionamento com largas dezenas de outros veículos semelhantes - a maior parte com matrícula portuguesa.
Batemos à porta da autocaravana mais apelativa. Artur Gaspar, de 66 anos, estava a ver o "Jornal da Noite" da SIC na companhia da esposa Carmo Ferreira, de 65. Convidaram-nos para entrar e conhecer a sua casa sobre rodas. Um veículo com todo o tipo de comodidades que uma casa tem.
"Temos condições para andar seis meses na estrada. Só precisamos de recorrer a uma lavandaria para tratar da nossa roupa", garantiu o senhor Gaspar. Mas o mais curioso desta história soubemos só a seguir. Como ambos se reformaram cedo, ele porque negociou uma pré-reforma na fábrica de celulose onde trabalhava, ela porque já tinha anos de desconto suficiente como funcionária pública, decidiram passar o resto das suas vidas a viajar. Por Portugal e pelo mundo.
Há seis anos que compraram a primeira autocaravana. E há três compraram a atual, com muito mais conforto. Custou-lhes €86.000. O preço de um pequeno apartamento nos arredores de Lisboa. Mas não choram o dinheiro. "Ambos gostamos de viajar e agora temos tempo para isso. A pior coisa que um reformado pode fazer é agarrar-se a um sofá. Se o fizéssemos, nunca mais nos levantávamos", diz Gaspar.
Carmo dá mais uma achega: "Agora que estamos no Outono da vida andamos na estrada a queimar os últimos cartuchos. Temos que viver cada dia intensamente. Aproveitar ao máximo". Durante o verão percorrem a costa litoral do país, param quando lhes apetece, sem planos. Este ano estiveram também no norte de Espanha. Foram por três dias, ficaram um mês.
"E vamos conhecer mais mundo. A partir do momento em que estamos reformados acabaram os horários e estamos livres para ir onde quisermos. Temos data de partida, mas não temos data de chegada. Pelo menos seis meses por ano andamos a viajar", explica Carmo, que nos diz que não há como a sua casa no Montijo, mas que esta sobre rodas tem tudo o que precisa para ser feliz. "Esta autocaravana dá-me liberdade e uma nova vista a cada dia."
As queixas ficaram para o que veem nas notícias, "é só BES e crise e BES e crise, parecem pingos de água a caírem em cima da nossa cabeça". Desejamos-lhe boa viagem e ficamos com vontade de viver assim quando formos grandes.
VEJA AQUIO DOSSIER COM TODOS OS ARTIGOS - E ADICIONE-O AOS SEUS FAVORITOS