A noite vai ser longa na praça Tahrir. Ao escurecer, nos espaços verdes, foram montadas tendas de campismo, onde alguns milhares de pessoas se preparam para pernoitar. Terça-feira será um dia importante para o sucesso do movimento de contestação ao Presidente Hosni Mubarak: os manifestantes querem reunir na praça um milhão de pessoas.
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Por indicação do Governo os comboios estão paralisados. A medida visa impedir que afluam à capital egípcia pessoas vindas de todo o país. "Estão enganados", diz um manifestante. "Não só vamos conseguir juntar um milhão nesta praça, como um milhão em muitos outros sítios do Egito".
Com as comunicações quase totalmente cortadas - a única operadora de Internet a funcionar foi silenciada esta noite e os sms não chegam ao seu destino -, os manifestantes empenham-se no passa a palavra para organizar as ações de protesto.
Uma jovem com a voz que mal se ouve, gasta pelas palavras de ordem, explica o que está combinado: "amanhã encontramo-nos aqui às 9h00. Às 11h00 partimos até ao edifício da televisão pública. E depois seguimos para a residência presidencial, em Habtin. Se o Exército não nos deixar passar é porque não quer a mudança"
Viver na Praça
Entre as tendas, um mar de pessoas conversa tranquilamente, lê o jornal ou simplesmente dormita. Convidam os jornalistas a juntarem-se aos piqueniques improvisados e desfiam sem se cansarem as suas razões de queixa em relação ao regime de Mubarak
"Eu vivo aqui há três dias, diz Mohamed, um médico de 40 anos. O Governo tenta fazer truques, dizendo que há uma evolução, mas nós não acreditamos nisso." As pessoas mostram-se indiferentes às alterações governativas promovidas por Mubarak. Dizem que só haverá verdadeira mudança quando ele cair.
Dir-se-ia que o "ensaio geral" para a megamanifestação de terça-feira correu bem. Os caças da Força Aérea que ontem voaram sobre a praça de forma ameaçadora não apareceram - apenas um helicóptero sobrevoou quase ininterruptamente o local. Tanques do Exército continuam estrategicamente estacionados nas ruas de acesso à praça.
A Polícia continua desaparecida e os populares dão mostras de estarem a lidar melhor com as ameaças de assalto às suas casas, que nasceram após a Polícia abandonar as esquadras e deixar à solta centenas de presos.
"Ontem tentaram atacar a minha casa" conta Abrahman, funcionário do Banco Nacional do Egito. "A minha mulher estava sozinha em casa. Mas os meus irmãos e os meus vizinhos protegeram-na". Abrahman vive na praça desde sexta-feira.
Um homem com uma fotografia de Mubarak, pintada com um pequeno bigode preto e com a legenda "o novo Hitler" mostra-se confiante: "isto é uma questão de tempo. Estamos muito seguros disso. Vai ser um dia importante."